quinta-feira, 2 de abril de 2020

Produzindo num território existencial


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ – Campus Altamira
FACULDADE DE ETNODIVERSIDADE
PÓS GRADUAÇÃO LATU SENSU - EDUCAÇÃO POR INVERSÃO PEDAGÓGICA: INCLUSÃO PARA A EMANCIPAÇÃO EM TERRITÓRIOS SOCIOEDUCATIVOS NA TRANSAMAZÔNICA-XINGU

Disciplina: Oficina de Escrita acadêmica
Docente: Profa. Dra. Raquel Lopes

Pesquisando um território existencial na cidade de Altamira - Pará
Discente: José Roberto Rodrigues Prates

Nosso trabalho de conclusão de curso será apresentado em um arquivo Power Point, contendo áudio visual, fotografias e textos. O conteúdo será de uma discussão sobre uma pedagogia voltada para formação em atividades produtivas com grupos de jovens em situação de vulnerabilidade na sociedade altamirense, devido à exclusão do mercado de trabalho, bem como vitimas de violência social e doméstica.
Além dos vídeos, álbuns fotográficos e textos, serão expostos neste Power Point a apresentação de projetos de desenvolvimento comunitário, com Objeto do projeto, justificativa, objetivos geral e específicos, metas, metodologia de operacionalização, cronogramas de execução, estimativas de investimentos e fontes de captação de recursos financeiros para realizar a execução das propostas de projetos de desenvolvimento pessoal e coletivo na comunidade.
Neste processo pedagógico, com um grupo formado por uma clientela indicada por organizações da sociedade civil como o Comitê em Defesa da Vida da Criança Altamirense a ONG Oficina Território Livre, Associação de Moradores do RUC Jatobá, e, possivelmente, outras mais. Os procedimentos da pesquisa será COM a comunidade e não PARA a comunidade.
O conteúdo dos textos será de organização, planejamento e projeto para produção sustentável e comércio de produtos pela economia criativa e solidária, envolvendo justa distribuição dos benefícios da produção, uma vez que os interesses serão coletivos.
Através de oficinas e treinamentos para elaboração de projetos de captação de recursos para investimento e custeio em atividades produtivas como exemplo de produção de artesanato de biojoias e outros artefatos de adereços e decoração, produção de mudas de essências florestais e frutíferas para arborização de quintais, produção de plantas ornamentais para jardinagem e decoração. Entre outras atividades a serem definidas pelo(a)s próprios beneficiário(a)s, durante o processo de formação.
Essas atividades, tanto de formação e capacitação, quanto produtivas serão fotografadas e filmadas em áudio visual, para ilustração da apresentação teórica da proposta de intervenção social do pesquisador cartógrafo na inversão pedagógica onde todos aprendem e todos ensinam. A utilização do Power Point, explica-se pela possibilidade da inserção, tanto de textos, quanto de imagens e audiovisual num único arquivo de mídia eletrônica. E, não invalida, se for o caso, uma posterior produção de artigo sobre tal intervenção, tendo tal arquivo como subsídio.
Neste curso de inversão pedagógica, de algumas leituras técnicas, como o “Pistas do método da cartografia” (Passos E., Kastrup V. e Escóssia L., 2009), particularmente a pista 7: Cartografar é habitar um território existencial (Passos & Alvares, 2009) estamos revendo posições e nos encontrando aos poucos, principalmente relativo aos conceitos de cartografia, bem como de território e paisagem, aos quais por ser graduado em geografia, acreditava que eu tinha algum domínio sobre os mesmos, entretanto após recentes leituras, vimos relacionando estes conceitos com outras visões relativas ao pertencimento do pesquisador aprendiz-cartógrafo, com o espaço geográfico ao qual se pesquisa, bem como se entender o pesquisador como parte integrante da paisagem, entendendo também a paisagem como algo mais que físico, estático e apenas ao alcance dos olhos, mas uma paisagem em que a espiritualidade do lugar e do seu povo seja também variável a considerar, sempre em movimento, com dinâmica própria em permanente modificação.
Relativo à cartografia que como geógrafo eu dava mais atenção ao sentido de desenho dos componentes da paisagem, das legendas representando os elementos integrantes do território, desde suas linhas limítrofes, bem como as configurações sócio-espaciais, ambientais e econômicas da territorialidade (SOUZA, 2013), entretanto na cartografia de um território existencial, considerar-se-á com preponderância a cultura, a inseparabilidade dos costumes, hábitos e comportamentos tecnológicos preexistentes com os costumes, hábitos e tecnologias em atualização, a serem observados nos processos de aprendizagem, pesquisa, prospecção de informações pelos aprendizes cartógrafos, considerando tanto os conhecimentos tradicionais com os novos conhecimentos produzidos pela pesquisa da própria vivência dos integrantes da comunidade territorial, inclusive do pesquisador externo caso haja algum, reconhecido, aceito e com laços de afetividade com a população original. E, em caso de desterritorialização (HERRERA e SANTANA, 2016), no processo de aprendizagem trabalhar COM a comunidade a luta pela reterritorialização.
Mesmo que se tenha que sair da zona de conforto, enfrentar os desafios apresentados. Quem disse que seria fácil? Portanto, devemos unir esforços com os aprendizes para aprender a aprender, fazendo, praticando, vivenciando experiências no cotidiano da comunidade. Observando a própria realidade, a prática, o trabalho, o processo produtivo, os recursos naturais, os recursos culturais próprios da comunidade e com diálogo entre os aprendizes cartógrafos e o pesquisador, junto com o aprendizado das disciplinas ou matérias apresentadas no estudo e pesquisa incluir também como assunto a ser aprendida e praticada, a cidadania, bem como novas tecnologias na produção que praticar.
Relacionar produção de produtos físicos com produção imaterial, a exemplo de conhecimentos, informações de conceitos e fenômenos, espiritualidade, notícias, desconfiando e confirmando as informações, identificando as “fake news”. Aprender a relação entre trabalho individual e trabalho coletivo, geração de renda coletiva e renda individual, justiça na repartição dos benefícios e sustentabilidade.
Considerando que devemos além de nos sentir pertencente à comunidade do território ao qual estamos pesquisando observar nossos laços afetivos, nossa aceitação pelos outros entes pertencentes a esta comunidade, observar nosso grau de empatia e receptividade. Em vez de pesquisar SOBRE o território, deve-se pesquisar COM o território, engajado e compromissado com a defesa dos anseios da comunidade tanto nas conquistas materiais quanto imateriais.
Assim como camponês, técnico da área agroecológica e educador popular, quero com isso exercitar minha vontade de trabalhar os processos de ensino aprendizagem com os educandos relacionando o contexto educacional com o processo de produção, tanto em atividades econômicas criativas, como tradicionais, envolvendo tecnologias inovadoras, diversificação do uso da paisagem no processo produtivo, tanto com atividades culturais, turísticas, artesanais, comércio virtual, bem como a agroecologia. Considerando o tripé, viabilidade econômica, justiça social e responsabilidade ambiental (MMA, 2004).
No entanto ao trabalhar a educação na comunidade, não ter predeterminado o que o educador, professor, pesquisador tem em mente, aliás buscar o desprendimento de não ter nada em mente, mas em conjunto com a comunidade, crianças, jovens e adultos, descobrir a partir do potencial da comunidade, o que pode ser mais viável para se desenvolver, bem como não se ater a uma única atividade, sugerir ou aceitar as sugestões de diversificar atividades, aprendizado voltado para a economia criativa, mesmo que em atividades já tradicionais.
E, verificar no processo que o mesmo pode oferecer reflexão sobre disciplinas científicas ou técnicas tanto em literatura, língua portuguesa, aritmética, matemática, geografia, história, biologia, filosofia, sociologia, química, física, ou outras disciplinas que podem ser estudadas a partir de produtos ou materiais presentes na paisagem/vivência/prática, e através do diálogo, como nos ensina algumas leituras de Paulo Feire.
Produzindo no processo de aprendizagem, alguns documentários educativos em áudio visual, de curta duração, entre 3 e 7 minutos tendo como protagonistas os próprios produtores, com ênfase na juventude e gênero da comunidade. Inclusive estes vídeos de curta duração podem e devem também se tornar produtos para comercializar e gerar renda para as famílias dos protagonistas.
Altamira(PA), 13 de julho de 2019

Referência Bibliográfica
    PASSOS Eduardo, KASTRUP Virgínia, ESCÓSSIA Liliana da, Pistas do Método da Cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade, UFRGS, Porto Alegre – RS, Editora Sulina, 2009

    Ministério do Meio Ambiente, Agenda 21 brasileira: ações prioritárias / Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional. 2. ed. Brasília, 2004.
    HERRERA, J. A.; SANTANA, N. C. Empreendimento hidrelétrico e famílias ribeirinhas na Amazônia: desterritorialização e resistência à construção da hidrelétrica Belo Monte, na Volta Grande do Xingu. Geousp – Espaço e Tempo (Online), v. 20, n. 2, p. 250-266, mês. 2016. ISSN 2179-0892.
Disponível em: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2179-0892. geousp.2014.84539.

    SOUZA, Marcelo Lopes de, Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial,
Bertrand Brasil Editora, Rio de Janeiro, 2013.



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