quarta-feira, 1 de abril de 2020

Paulo Freire em Tempos de Fake News


Reflexões da Jornada Paulo Freire em tempos de fake News
                                                                     * José Roberto Prates

Coincidentemente ou não dia 14 de abril de 2019, quando a jornada Paulo Freire em tempos de fake news apresentou sua quarta e última vídeo aula, o jornal eletrônico da “Folha.de São Paulo”, publicou com o link https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/04/por-que-o-brasil-de-olavo-e-bolsonaro-ve-em-paulo-freire-um-inimigo.shtml, matéria escrita pelo biógrafo de Paulo Freire, Sérgio Haddad, analisando a hostilidade contra o patrono da educação no Brasil, em alta nos últimos anos e com campanha de difamação aberta através de fake news, deflagrada após a posse do atual governo federal.
Segundo o próprio Paulo Freire em entrevista concedida à Folha de São Paulo em 1994, ...“a classe dominante jamais aceitaria que as massas populares se tornem lúcidas”. Agora, mais de duas décadas após sua morte, seu pensamento continua tão atual, que os ataques ao método pedagógico desenvolvido em mais de cinco décadas de atuação educacional, são deferidos como se fosse na sua própria personalidade.
Assim, esta Jornada Paulo Freire em tempos de fake news, que está sendo um sucesso, tanto é que mais de 20 mil educadores, estão acompanhando o Instituto Paulo Freire, em defesa do pensamento freiriano e em preparação do curso mais aprofundado sobre o tema, planejado para o próximo período.
A opressão continuará existindo, mas educadores populares e métodos pedagógicos para fortalecer a resistência também serão mantidos e atualizados para fazer frente à opressão nestes tempos de uso desenfreado de tecnologia digital de comunicação.
Assim através desta intervenção do professor Ladslau Dowbor, aprendemos que a “apropriação do conhecimento é vital para a libertação. Fake news, uso de tecnologia, invasão e deturpação de conhecimento, publicação de falsidades é indigno com os direitos humanos”.
Como Dowbor informa, a existência de 4 bilhões de smartfones em utilização hoje no mundo, dá uma noção de como a conectividade planetária tem importância na difusão do conhecimento e possibilita que uma distorção numa informação ganhe proporções inimagináveis.
O Sistema GAFAM (Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft) hoje no comando do sistema internacional de informações e no controle das redes sociais como conglomerados midiáticos e detendo a maior fatia do mercado da informação, interfere sobremaneira na difusão do conhecimento.
Jornalistas de mídia livre a exemplo de Carta Maior, IHU, Luiz Nacif, entre outros, que não são “paus mandados” dos citados conglomerados de comunicação, oferecem grande colaboração interativa, com os quais precisamos ter atuação para fortalecer a resistência e ampliar nossa fatia do mercado de comunicação, com inserções de conhecimentos saudáveis e a bem da sustentabilidade socioambiental e direitos humanos.
O conhecimento tem relevante importância na incorporação de valor aos produtos, bem como necessitamos entender a existência de dois mundos: 1 – Plataformas que dominam o mundo (através dos conglomerados de comunicação, inclusive com as fake news) e, 2 – Interação colaborativa escola – academia, interativa, livre colaboração para generalizar o conhecimento livre no planeta (através desta realizar estudos sobre o desenvolvimento sustentável, a “Reprodução Social”, “A era do capital improdutivo” e “Tecnologias do Conhecimento”).
Para Dowbor, temos que enfrentar os desafios para buscar a internet livre com acesso gratuito para maior oportunidade de combate às fake news, e, obtenção de espaço para desconstruir a perversidade do mundo tecnológico, fazer contrainformação para o bem da humanidade em  contraposição às fake news.
Na 2ª Video Aula, com o Professor e jornalista Ismar Soares, que através do pensamento de Paulo Freire ressemantizou o conceito de educomunicação considerou que Paulo Freire era um homem de conversa, que na sua prática pedagógica experimentava a inseparabilidade da comunicação com a educação.
Considera o professor Ismar, que Paulo Freire tem sido alvo de uma forte campanha que tenta dissuadir as políticas públicas e estudantes a seguir seus ensinamentos, por isso está ocorrendo uma disputa entre os que querem descontruir o pensamento de Paulo Freire e os que querem defendê-lo. Devendo ser analisados e haver séria reflexão sobre três perspectivas em educação:
1 – a educação com a preocupação com os conteúdos sua missão é a transmissão dos conteúdos gerados pela ciência;
2 – a educação geradora de efeitos e que forma pessoas, que é avaliada como qualidade, por surtir os efeitos esperados; e,
3 – a educação através de processos, sempre em construção.
Paulo Freire defendeu que educação é um processo em construção permanente, um processo dialógico construtivista, que produz uma prática pela libertação das pessoas.
Os ataques ao pensamento de Paulo Freire têm vindo dos que defendem a educação como conteúdo e a educação como efeito, que são imediatistas. E, é nestes que se encontra a origem dos conceitos, preconceitos e falso juízo das posições de Paulo Freire, e que é preciso que os defensores do pensamento freiriano passem a entender tal processo para fazer a contrainformação.
A Comunicação é transversal à educação, e o pensamento de Paulo Freire está num processo de reconstrução, sempre tendo o cuidado de identificar a origem dos preconceitos e falsas informações, para o bom combate, lutando pela educação processual, recriando Paulo Freire, principalmente através das novas gerações. Por estas estarem mais afinadas com as tecnologias e redes sociais e mais facilmente acessando as tecnologias do conhecimento.
Temos observado que crianças e jovens não têm preconceito com Paulo Freire. E como freirianos devem usar a voz, a escrita e a tecnologia para fazer o mundo crescer de forma igualitária e justa, num processo continuo, criativo, emancipador, libertador, considerando que a educação, assim como a comunicação não são neutras.
Na 3 ª. Vídeo Aula, o professor Afonso Celso Scocuglia, afirma que foram várias décadas para construção do pensamento político pedagógico de Paulo Freire, em vários momentos, entre 1950 e 1990, inclusive alguns momentos póstumos. Quando alguns escritos inéditos foram publicados.
O pensamento atual é prospectivo, quando se tem que voltar no tempo para analisar sobre os processos educativos e sobre várias reflexões da prática educativa.
Ponto alto da reflexão de Paulo Freire é a inseparabilidade entre Educação e Política, motivo de Paulo Freire ter ficado fora do Brasil, sob exilio por 16 anos, durante a Ditadura Militar, tendo retornado ao País somente na década de 80, assim mesmo ele não abandonou seu pensamento político na reflexão sobre as práticas educativas.
O professor Scocuglia ao informar que Paulo Freire é um autor entre os 100 mais citados em língua inglesa do mundo e doutor honoris causa em dezenas de importantes universidades do mundo, dá a entender que deve merecer maior respeito de setores do atual governo do Brasil, inclusive do Ministério da Educação e principalmente por ser o Patrono da Educação no Brasil
Professor Scocuglia apresenta que os principais conceitos do pensamento de Paulo Freire, envolvem: Círculo de cultura, Ação cultural, diálogo, problematização, epistemologia, ciclo do conhecimento, pensar o trabalho como princípio educativo, pedagogia do oprimido, Educação problematizadora contra a educação bancária, educação para a autonomia, trabalho como educação, e, educação como fábrica de autonomia, conceitos sobre os quais devemos refletir na luta contra as fake news.
Na 4ª Vídeo Aula, o professor Moacir Gadotti, que defende a educação para a sustentabilidade, expos que alguns pontos de vista introduzidos por Paulo Freire em cinco décadas de pesquisa pedagógica e produção teórica são cientificamente incontestáveis, tanto que inumeráveis temas por ele defendidas foram incorporados aos sistemas de ensino/aprendizagem universal. Por exemplo a relação do pensamento pedagógico através das práticas de vivência do educando, tão aceita no pensamento pedagógico universal que não se tem explicação por tal teoria não ter sido discutida antes de Paulo Freire, da mesma forma a educação baseada na realidade do educando, e, a harmonização entre a educação formal e informal.
A Critica das práticas como método de entendimento das informações em estudo, a reinvenção do método de alfabetização de adultos, diferentemente da alfabetização de crianças, particularmente pela diferença de tempo de vivência entre adultos e crianças, a experiência da vida dos adultos no processo de alfabetização, enquanto que crianças tem menos tempo de vivência e consequentemente menos experiência de vida.
Considera-se que a utilização na educação do método de Paulo Freire é um ponto de equilíbrio nestes tempos de posições extremadas na sociedade. A exemplo da militarização das escolas, propostas de professores portarem armas letais em sala de aula, são indícios de falta de diálogo, falta de pensamento crítico sobre a realidade, falta do método freiriano, falta da observação das práticas de vida no processo educacional.
O Professor Gadotti afirma que deve se reagir a esta situação, não apenas em defesa de Paulo Freire e seu método, mas como defesa do seu pensamento como um todo, na inseparabilidade da política no processo pedagógico, no respeito aos direitos humanos, na não opressão aos segmentos diferenciados da sociedade, no diálogo sobre os problemas sociais, culturais, econômicos, ambientais, e, políticos naturalmente.
Devemos considerar que os ataques que a sociedade está vivenciando são reflexos do atual “espaço da pós verdade”, na velocidade e quantidade de informações através das cyrber mídias (internet), acessível em qualquer aparelho celular através das redes sociais, do sistema “GAFAM” (Google, Aple, Facebook, Amazon e Microsoft), no qual as informações estão sendo aceitas, sem senso crítico, sem aferição da veracidade e são reproduzidas irresponsavelmente, sem filtragem, sem apuração da origem, sem conhecimento da autoria de tais informações, em grande número falsas, e, disseminadas especificamente contra Paulo Freire e seu pensamento por alguns grupos ideológicos reacionários, capitalistas neoliberais entreguistas, que não entendem nem a serviço de quem estão trabalhando, deflagrando uma campanha de grandes proporções atacando o pensamento freiriano com fake news, imputando-lhe posicionamentos inversos à sua teoria, bem como responsabilizando o método freiriano pela questionável qualidade da educação que pouco utiliza os métodos de Paulo Freire no processo político pedagógico, entretanto, desferindo golpes jamais vistos ao pensamento de um Educador de renome internacional.
Consideramos portanto, nosso dever despertar a esperança e buscar na pacificação e no enfrentamento das fake news, descobrir a origem de tais ataques e desmascará-los, melhorando a qualidade do ensino, e melhores dias para a sociedade.
Considerando que a escola não é espaço só de conteúdos para informações em áreas de conhecimento, é também espaço de relações sociais e humanas, de educar para a ética e para a cidadania, educar para lidar como as fake news dentro e fora da escola.
Para tanto, conferir as informações no conteúdo e no tempo, verificar sua origem e temporalidade, desconfiar da atualidade e da veracidade, para só compartilhar nas redes sociais o que se tem confiança na origem, bem como confirmação do entendimento da informação. Desconfiar principalmente das postagens mais chamativas, mais atrativas, apresentadas em formato mais enfeitado, com letras garrafais e imagens mais coloridas.
Conclui Moacir Gadotti, que devemos aprofundar o conhecimento sobre as contribuições de Paulo Freire nos métodos pedagógicos. Suas teorias, seus diálogos, seu engajamento, suas soluções de problemas.
Assim, ressignificar a obra e o pensamento de Paulo Freire, confirmar sua atualidade. Enfim, pesquisar Paulo Freire, descobrir os marcos históricos do seu pensamento, das suas idéias pedagógicas, da educação com qualidade sócio cultural e sócio ambiental.

Conclusão
Por fim, Paulo Freire que não era comunista, nem usava as teorias que ele desenvolveu para interesses individuais ou escusos, está sendo bombardeado na atualidade com informações falsas sobre as posições teóricas que ele defendeu e com as quais foi premiado mundialmente e reconhecido universalmente como um pensador da pedagogia da inclusão social, do desenvolvimento coletivo, inclusive como cristão, sendo no entanto atacado em suas posições, com a inversão do seu pensamento. Cabendo ao Instituto Paulo Freire, bem como de educadores da atualidade, estudarem maneiras de realizar a sua defesa e ao mesmo tempo, em virtude da atualidade do seu pensamento pedagógico, disseminar tal pensamento e conhecimentos tanto na alfabetização, como no exercício da metodologia então chamada de “construtivismo”, que atualmente em sua ressignificação, tem recebido outras denominações.
Altamira(PA), 17 de abril de 2019

José Roberto Prates
Pós Graduando em Educação por Inversão Pedagógica: Inclusão para
Emancipação de Territórios Socioeducativos na Transamazônica e Xingu
Faculdade de Etnodiversidade
UFPA – Campus Altamira




Nenhum comentário:

Postar um comentário