Reflexões da Jornada Paulo Freire em tempos de fake News
* José Roberto Prates
Coincidentemente ou não dia 14 de
abril de 2019, quando a jornada Paulo Freire em tempos de fake news apresentou
sua quarta e última vídeo aula, o jornal eletrônico da “Folha.de São Paulo”,
publicou com o link https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/04/por-que-o-brasil-de-olavo-e-bolsonaro-ve-em-paulo-freire-um-inimigo.shtml,
matéria escrita pelo biógrafo de Paulo Freire, Sérgio Haddad, analisando a
hostilidade contra o patrono da educação no Brasil, em alta nos últimos anos e
com campanha de difamação aberta através de fake news, deflagrada após a posse
do atual governo federal.
Segundo o próprio Paulo Freire em
entrevista concedida à Folha de São Paulo em 1994, ...“a classe dominante
jamais aceitaria que as massas populares se tornem lúcidas”. Agora, mais de
duas décadas após sua morte, seu pensamento continua tão atual, que os ataques
ao método pedagógico desenvolvido em mais de cinco décadas de atuação
educacional, são deferidos como se fosse na sua própria personalidade.
Assim, esta Jornada Paulo Freire
em tempos de fake news, que está sendo um sucesso, tanto é que mais de 20 mil
educadores, estão acompanhando o Instituto Paulo Freire, em defesa do
pensamento freiriano e em preparação do curso mais aprofundado sobre o tema,
planejado para o próximo período.
A opressão continuará existindo,
mas educadores populares e métodos pedagógicos para fortalecer a resistência
também serão mantidos e atualizados para fazer frente à opressão nestes tempos
de uso desenfreado de tecnologia digital de comunicação.
Assim através desta intervenção do
professor Ladslau Dowbor, aprendemos que a “apropriação do conhecimento é vital
para a libertação. Fake news, uso de tecnologia, invasão e deturpação de
conhecimento, publicação de falsidades é indigno com os direitos humanos”.
Como Dowbor informa, a existência
de 4 bilhões de smartfones em utilização hoje no mundo, dá uma noção de como a
conectividade planetária tem importância na difusão do conhecimento e
possibilita que uma distorção numa informação ganhe proporções inimagináveis.
O Sistema GAFAM (Google, Apple,
Facebook, Amazon e Microsoft) hoje no comando do sistema internacional de
informações e no controle das redes sociais como conglomerados midiáticos e
detendo a maior fatia do mercado da informação, interfere sobremaneira na
difusão do conhecimento.
Jornalistas de mídia livre a
exemplo de Carta Maior, IHU, Luiz Nacif, entre outros, que não são “paus
mandados” dos citados conglomerados de comunicação, oferecem grande colaboração
interativa, com os quais precisamos ter atuação para fortalecer a resistência e
ampliar nossa fatia do mercado de comunicação, com inserções de conhecimentos
saudáveis e a bem da sustentabilidade socioambiental e direitos humanos.
O conhecimento tem relevante
importância na incorporação de valor aos produtos, bem como necessitamos
entender a existência de dois mundos: 1 – Plataformas que dominam o mundo
(através dos conglomerados de comunicação, inclusive com as fake news) e, 2 –
Interação colaborativa escola – academia, interativa, livre colaboração para
generalizar o conhecimento livre no planeta (através desta realizar estudos
sobre o desenvolvimento sustentável, a “Reprodução Social”, “A era do capital
improdutivo” e “Tecnologias do Conhecimento”).
Para Dowbor, temos que enfrentar
os desafios para buscar a internet livre com acesso gratuito para maior
oportunidade de combate às fake news, e, obtenção de espaço para desconstruir a
perversidade do mundo tecnológico, fazer contrainformação para o bem da
humanidade em contraposição às fake
news.
Na 2ª Video Aula, com o Professor
e jornalista Ismar Soares, que através do pensamento de Paulo Freire
ressemantizou o conceito de educomunicação considerou que Paulo Freire era um
homem de conversa, que na sua prática pedagógica experimentava a
inseparabilidade da comunicação com a educação.
Considera o professor Ismar, que
Paulo Freire tem sido alvo de uma forte campanha que tenta dissuadir as
políticas públicas e estudantes a seguir seus ensinamentos, por isso está
ocorrendo uma disputa entre os que querem descontruir o pensamento de Paulo
Freire e os que querem defendê-lo. Devendo ser analisados e haver séria
reflexão sobre três perspectivas em educação:
1 – a educação com a preocupação
com os conteúdos sua missão é a transmissão dos conteúdos gerados pela ciência;
2 – a educação geradora de
efeitos e que forma pessoas, que é avaliada como qualidade, por surtir os
efeitos esperados; e,
3 – a educação através de
processos, sempre em construção.
Paulo Freire defendeu que
educação é um processo em construção permanente, um processo dialógico
construtivista, que produz uma prática pela libertação das pessoas.
Os ataques ao pensamento de Paulo
Freire têm vindo dos que defendem a educação como conteúdo e a educação como
efeito, que são imediatistas. E, é nestes que se encontra a origem dos
conceitos, preconceitos e falso juízo das posições de Paulo Freire, e que é
preciso que os defensores do pensamento freiriano passem a entender tal
processo para fazer a contrainformação.
A Comunicação é transversal à
educação, e o pensamento de Paulo Freire está num processo de reconstrução,
sempre tendo o cuidado de identificar a origem dos preconceitos e falsas
informações, para o bom combate, lutando pela educação processual, recriando
Paulo Freire, principalmente através das novas gerações. Por estas estarem mais
afinadas com as tecnologias e redes sociais e mais facilmente acessando as
tecnologias do conhecimento.
Temos observado que crianças e
jovens não têm preconceito com Paulo Freire. E como freirianos devem usar a
voz, a escrita e a tecnologia para fazer o mundo crescer de forma igualitária e
justa, num processo continuo, criativo, emancipador, libertador, considerando
que a educação, assim como a comunicação não são neutras.
Na 3 ª. Vídeo Aula, o professor
Afonso Celso Scocuglia, afirma que foram várias décadas para construção do
pensamento político pedagógico de Paulo Freire, em vários momentos, entre 1950
e 1990, inclusive alguns momentos póstumos. Quando alguns escritos inéditos
foram publicados.
O pensamento atual é prospectivo,
quando se tem que voltar no tempo para analisar sobre os processos educativos e
sobre várias reflexões da prática educativa.
Ponto alto da reflexão de Paulo
Freire é a inseparabilidade entre Educação e Política, motivo de Paulo Freire
ter ficado fora do Brasil, sob exilio por 16 anos, durante a Ditadura Militar,
tendo retornado ao País somente na década de 80, assim mesmo ele não abandonou
seu pensamento político na reflexão sobre as práticas educativas.
O professor Scocuglia ao informar
que Paulo Freire é um autor entre os 100 mais citados em língua inglesa do
mundo e doutor honoris causa em dezenas de importantes universidades do mundo,
dá a entender que deve merecer maior respeito de setores do atual governo do
Brasil, inclusive do Ministério da Educação e principalmente por ser o Patrono
da Educação no Brasil
Professor Scocuglia apresenta que
os principais conceitos do pensamento de Paulo Freire, envolvem: Círculo de
cultura, Ação cultural, diálogo, problematização, epistemologia, ciclo do
conhecimento, pensar o trabalho como princípio educativo, pedagogia do
oprimido, Educação problematizadora contra a educação bancária, educação para a
autonomia, trabalho como educação, e, educação como fábrica de autonomia,
conceitos sobre os quais devemos refletir na luta contra as fake news.
Na 4ª Vídeo Aula, o professor
Moacir Gadotti, que defende a educação para a sustentabilidade, expos que
alguns pontos de vista introduzidos por Paulo Freire em cinco décadas de
pesquisa pedagógica e produção teórica são cientificamente incontestáveis,
tanto que inumeráveis temas por ele defendidas foram incorporados aos sistemas
de ensino/aprendizagem universal. Por exemplo a relação do pensamento
pedagógico através das práticas de vivência do educando, tão aceita no
pensamento pedagógico universal que não se tem explicação por tal teoria não
ter sido discutida antes de Paulo Freire, da mesma forma a educação baseada na
realidade do educando, e, a harmonização entre a educação formal e informal.
A Critica das práticas como
método de entendimento das informações em estudo, a reinvenção do método de
alfabetização de adultos, diferentemente da alfabetização de crianças,
particularmente pela diferença de tempo de vivência entre adultos e crianças, a
experiência da vida dos adultos no processo de alfabetização, enquanto que
crianças tem menos tempo de vivência e consequentemente menos experiência de
vida.
Considera-se que a utilização na
educação do método de Paulo Freire é um ponto de equilíbrio nestes tempos de
posições extremadas na sociedade. A exemplo da militarização das escolas,
propostas de professores portarem armas letais em sala de aula, são indícios de
falta de diálogo, falta de pensamento crítico sobre a realidade, falta do
método freiriano, falta da observação das práticas de vida no processo
educacional.
O Professor Gadotti afirma que
deve se reagir a esta situação, não apenas em defesa de Paulo Freire e seu
método, mas como defesa do seu pensamento como um todo, na inseparabilidade da
política no processo pedagógico, no respeito aos direitos humanos, na não
opressão aos segmentos diferenciados da sociedade, no diálogo sobre os
problemas sociais, culturais, econômicos, ambientais, e, políticos
naturalmente.
Devemos considerar que os ataques
que a sociedade está vivenciando são reflexos do atual “espaço da pós verdade”,
na velocidade e quantidade de informações através das cyrber mídias (internet),
acessível em qualquer aparelho celular através das redes sociais, do sistema
“GAFAM” (Google, Aple, Facebook, Amazon e Microsoft), no qual as informações
estão sendo aceitas, sem senso crítico, sem aferição da veracidade e são
reproduzidas irresponsavelmente, sem filtragem, sem apuração da origem, sem
conhecimento da autoria de tais informações, em grande número falsas, e,
disseminadas especificamente contra Paulo Freire e seu pensamento por alguns
grupos ideológicos reacionários, capitalistas neoliberais entreguistas, que não
entendem nem a serviço de quem estão trabalhando, deflagrando uma campanha de
grandes proporções atacando o pensamento freiriano com fake news, imputando-lhe
posicionamentos inversos à sua teoria, bem como responsabilizando o método
freiriano pela questionável qualidade da educação que pouco utiliza os métodos
de Paulo Freire no processo político pedagógico, entretanto, desferindo golpes
jamais vistos ao pensamento de um Educador de renome internacional.
Consideramos portanto, nosso
dever despertar a esperança e buscar na pacificação e no enfrentamento das fake
news, descobrir a origem de tais ataques e desmascará-los, melhorando a
qualidade do ensino, e melhores dias para a sociedade.
Considerando que a escola não é
espaço só de conteúdos para informações em áreas de conhecimento, é também
espaço de relações sociais e humanas, de educar para a ética e para a
cidadania, educar para lidar como as fake news dentro e fora da escola.
Para tanto, conferir as
informações no conteúdo e no tempo, verificar sua origem e temporalidade,
desconfiar da atualidade e da veracidade, para só compartilhar nas redes
sociais o que se tem confiança na origem, bem como confirmação do entendimento
da informação. Desconfiar principalmente das postagens mais chamativas, mais
atrativas, apresentadas em formato mais enfeitado, com letras garrafais e
imagens mais coloridas.
Conclui Moacir Gadotti, que
devemos aprofundar o conhecimento sobre as contribuições de Paulo Freire nos
métodos pedagógicos. Suas teorias, seus diálogos, seu engajamento, suas
soluções de problemas.
Assim, ressignificar a obra e o
pensamento de Paulo Freire, confirmar sua atualidade. Enfim, pesquisar Paulo
Freire, descobrir os marcos históricos do seu pensamento, das suas idéias
pedagógicas, da educação com qualidade sócio cultural e sócio ambiental.
Conclusão
Por fim, Paulo Freire que não era
comunista, nem usava as teorias que ele desenvolveu para interesses individuais
ou escusos, está sendo bombardeado na atualidade com informações falsas sobre
as posições teóricas que ele defendeu e com as quais foi premiado mundialmente
e reconhecido universalmente como um pensador da pedagogia da inclusão social,
do desenvolvimento coletivo, inclusive como cristão, sendo no entanto atacado
em suas posições, com a inversão do seu pensamento. Cabendo ao Instituto Paulo
Freire, bem como de educadores da atualidade, estudarem maneiras de realizar a
sua defesa e ao mesmo tempo, em virtude da atualidade do seu pensamento
pedagógico, disseminar tal pensamento e conhecimentos tanto na alfabetização,
como no exercício da metodologia então chamada de “construtivismo”, que
atualmente em sua ressignificação, tem recebido outras denominações.
Altamira(PA), 17 de
abril de 2019
José Roberto Prates
Pós Graduando em Educação por Inversão
Pedagógica: Inclusão para
Emancipação de Territórios
Socioeducativos na Transamazônica e Xingu
Faculdade de Etnodiversidade
UFPA – Campus Altamira
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