domingo, 26 de abril de 2020

Amazônia Centro do Mundo - Manifesto

AMAZÔNIA CENTRO DO MUNDO
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Diante da emergência climática, estamos todos no mesmo barco?
E declaramos:
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Que soberania é esta em que uma empresa, a Norte Energia S.A., controla a água do rio Xingu para mover a Usina Hidrelétrica de Belo Monte? E, assim, tem poder de vida e morte sobres povos e ecossistemas inteiros?
E declaramos:
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Que nacionalismo é este que pretende entregar a Volta Grande do Xingu para uma mineradora canadense, a Belo Sun, explorar ouro e depois deixar como legado um cemitério tóxico para o Brasil?
E declaramos:
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Que governo é este que suspendeu as demarcações das terras indígenas, públicas, e pretende abrir as terras já demarcadas para exploração e lucros privados?
E declaramos:
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Que desenvolvimento para a Amazônia é este, que reduz milhões de espécies a soja, boi, minério,
especulação de terras e obras de destruição ?
E declaramos:
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Como a supremacia branca e patriarcal determinou a violência contra a Amazônia e contra as mulheres?
E declaramos:
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Quem são vocês, os que cortam as árvores e as vidas, os que envenenam os rios e as matas com agrotóxicos, mercúrio e cianeto, os que secam as águas, os que arrancam as crianças da florestas e as jogam nas periferias urbanas destituídas de tudo e também de memória?
E declaramos:
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Quem somos nós?
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Qual é a nossa aliança?
E declaramos:
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- O que queremos?
E declaramos:
Na época da emergência climática, a Amazônia é o centro do mundo. Sem manter a maior floresta tropical do planeta viva, não há como controlar o superaquecimento global. Ao transpirar, a floresta lança 20 trilhões de litros de água na atmosfera a cada 24 horas. A floresta cria rios voadores sobre as nossas cabeças maiores do que o Amazonas. O suor da floresta salva o planeta todos os dias. Mas esta floresta está sendo destruída aceleradamente pelo desenvolvimento predatório e corre o risco de alcançar o ponto de não retorno em alguns anos. Diante da catástrofe em curso, nós, movimentos sociais e sociedade organizada, povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas, cientistas e ativistas climáticos do Brasil e do Mundo vencemos muros e barreiras para unirmos nossas vozes em torno de um objetivo comum: salvar a floresta e lutar contra a extinção das vidas no planeta.
Não. A maioria tem um barco de papel, uma minoria um transatlântico. Aqueles que provocaram a
crise climática serão os menos afetados por ela. Aqueles e aquelas que não a provocaram já estão
sofrendo e são os que mais sofrerão os impactos e também os que sofrerão primeiro. Já sofrem.
Deslocaremos o que é centro e o que é periferia, unindo as comunidades urbanas às comunidades da
floresta, para que assumam o lugar ao qual pertencem: o centro. Combateremos o apartheid climático
e o racismo ambiental que tenta cercar o planeta com muros para os mais afetados não poderem Entrar.
Não permitiremos que este planeta se torne um condomínio.
Lutaremos contra todas as formas de morte.
Isso não é soberania, isso é ecocídio. E é também genocídio.
Lutaremos contra todas as formas de morte.
Isso não é nacionalismo, é submissão. E é crime.
Lutaremos contra todas as formas de morte.
Este não é um governo para todos os brasileiros, mas uma ação entre amigos. Exigimos que o governo demarque as terras indígenas, quilombolas e ribeirinhas de acordo com a constituição.
Lutaremos contra todas as formas de morte.
Isso não é desenvolvimento. É predação. Lucro de poucos à custa da morte de muitos. Em vez de
desenvolvimento, queremos envolvimento. Queremos Consulta Livre prévia e Informada.
Queremos salvaguardas para os povos nas negociações climáticas. É a floresta e a economia da
floresta que precisam crescer.
Agricultores familiares e produtores rurais que respeitam os limites legais e estão buscando modelos
de múltiplas espécies para um envolvimento ajustado a tempos de crise climática, devem ser
valorizados. Reflorestemos as áreas destruídas.
Lutaremos contra todas as formas de morte.
Parte das elites políticas e econômicas do Brasil enxergam a floresta da mesma forma que enxergam
as mulheres: como um corpo para violação e exploração.
As mulheres lideram as lutas na Amazônia e, como a floresta, são também, junto com a juventude
negra e pobre, as que mais sofrem violência. Precisamos barrar a violação dos corpos.
Lutaremos contra todas as formas de morte.
Vocês veem a floresta e os rios como mercadoria, como recursos a serem explorados. Vocês veem os
humanos e os não humanos como descartáveis. Vocês são os que tiveram a alma asfixiada por
concreto. Vocês são os que não amam nem mesmo os próprios filhos porque não se importam
se eles não tiverem futuro.
Lutaremos contra todas as formas de morte.
Nós somos aqueles e aquelas que não possuem a floresta. Nós somos floresta. Nós somos aqueles e
aquelas que não destruímos a natureza. Nós somos natureza. Nós somos aqueles e aquelas que temos
várias cores e formas e línguas e sexualidades e cosmologias e culturas.
Somos também aqueles e aquelas que fazemos das diferenças a nossa força. Os que respeitam todas
as gentes, as humanas e as não humanas. Aqueles e aquelas que querem viver e fazer viver. Somos
também aqueles e aquelas que sabem que não há os de dentro e os de fora. Somos todos e todas de
dentro na única casa que temos. Nós somos aqueles e aquelas que queremos garantir um futuro até
mesmo para os filhos daquele que tentam nos destruir.
Nossa aliança é pela descolonização de almas e mentes. Unidos no centro do mundo, somaremos o
conhecimento dos intelectuais da floresta ao dos intelectuais da universidade; articularemos a
experiência dos mais velhos à potência dos mais jovens; faremos o diálogo das identidades;
respeitaremos todos os corpos. Sonhamos uma educação com a comunidade e não para a comunidade.
Sabemos que só existirá floresta enquanto existirem os povos da floresta. Estaremos juntos, como
múltiplos de um, nas lutas de todas as Amazônias. Onde a floresta sangrar, nós estaremos.
Lutaremos contra todas as formas de morte.
Queremos amazonizar o mundo e amazonizar a nós mesmos.
Liderados pelos povos da floresta, queremos refundar o que chamamos de humano e voltar
a imaginar um futuro onde possamos viver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário