domingo, 26 de abril de 2020

EDUCAÇÕES EM REDE: arma de guerra


Arma de guerra

Educações em rede
É arma de guerra
Contra o coronavírus covid 19
Aspergindo informações
A todo o povo da terra.

Educações em rede
É arma de guerra
Contra a ignorância estúpida
Contaminando de saber saúde
A todo povo da terra.

Educações em rede
É arma de guerra
Contra capitalistas insanos
Orientando justiça econômica
A todo povo da terra.

Educações em rede
É arma de guerra
Contra governos injustos
Ensinando o bem viver
A todo povo da terra.

Educações em rede
É arma de guerra
Contra não civilizados
Conduzindo à terra sem males
Todo o povo da terra.

Zehrob
Altamira(PA), 21 de abril de 2020

Amazônia Centro do Mundo - Manifesto

AMAZÔNIA CENTRO DO MUNDO
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Diante da emergência climática, estamos todos no mesmo barco?
E declaramos:
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Que soberania é esta em que uma empresa, a Norte Energia S.A., controla a água do rio Xingu para mover a Usina Hidrelétrica de Belo Monte? E, assim, tem poder de vida e morte sobres povos e ecossistemas inteiros?
E declaramos:
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Que nacionalismo é este que pretende entregar a Volta Grande do Xingu para uma mineradora canadense, a Belo Sun, explorar ouro e depois deixar como legado um cemitério tóxico para o Brasil?
E declaramos:
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Que governo é este que suspendeu as demarcações das terras indígenas, públicas, e pretende abrir as terras já demarcadas para exploração e lucros privados?
E declaramos:
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Que desenvolvimento para a Amazônia é este, que reduz milhões de espécies a soja, boi, minério,
especulação de terras e obras de destruição ?
E declaramos:
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Como a supremacia branca e patriarcal determinou a violência contra a Amazônia e contra as mulheres?
E declaramos:
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Quem são vocês, os que cortam as árvores e as vidas, os que envenenam os rios e as matas com agrotóxicos, mercúrio e cianeto, os que secam as águas, os que arrancam as crianças da florestas e as jogam nas periferias urbanas destituídas de tudo e também de memória?
E declaramos:
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Quem somos nós?
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- Qual é a nossa aliança?
E declaramos:
Nós, que nos unimos no centro do mundo, perguntamos:
- O que queremos?
E declaramos:
Na época da emergência climática, a Amazônia é o centro do mundo. Sem manter a maior floresta tropical do planeta viva, não há como controlar o superaquecimento global. Ao transpirar, a floresta lança 20 trilhões de litros de água na atmosfera a cada 24 horas. A floresta cria rios voadores sobre as nossas cabeças maiores do que o Amazonas. O suor da floresta salva o planeta todos os dias. Mas esta floresta está sendo destruída aceleradamente pelo desenvolvimento predatório e corre o risco de alcançar o ponto de não retorno em alguns anos. Diante da catástrofe em curso, nós, movimentos sociais e sociedade organizada, povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas, cientistas e ativistas climáticos do Brasil e do Mundo vencemos muros e barreiras para unirmos nossas vozes em torno de um objetivo comum: salvar a floresta e lutar contra a extinção das vidas no planeta.
Não. A maioria tem um barco de papel, uma minoria um transatlântico. Aqueles que provocaram a
crise climática serão os menos afetados por ela. Aqueles e aquelas que não a provocaram já estão
sofrendo e são os que mais sofrerão os impactos e também os que sofrerão primeiro. Já sofrem.
Deslocaremos o que é centro e o que é periferia, unindo as comunidades urbanas às comunidades da
floresta, para que assumam o lugar ao qual pertencem: o centro. Combateremos o apartheid climático
e o racismo ambiental que tenta cercar o planeta com muros para os mais afetados não poderem Entrar.
Não permitiremos que este planeta se torne um condomínio.
Lutaremos contra todas as formas de morte.
Isso não é soberania, isso é ecocídio. E é também genocídio.
Lutaremos contra todas as formas de morte.
Isso não é nacionalismo, é submissão. E é crime.
Lutaremos contra todas as formas de morte.
Este não é um governo para todos os brasileiros, mas uma ação entre amigos. Exigimos que o governo demarque as terras indígenas, quilombolas e ribeirinhas de acordo com a constituição.
Lutaremos contra todas as formas de morte.
Isso não é desenvolvimento. É predação. Lucro de poucos à custa da morte de muitos. Em vez de
desenvolvimento, queremos envolvimento. Queremos Consulta Livre prévia e Informada.
Queremos salvaguardas para os povos nas negociações climáticas. É a floresta e a economia da
floresta que precisam crescer.
Agricultores familiares e produtores rurais que respeitam os limites legais e estão buscando modelos
de múltiplas espécies para um envolvimento ajustado a tempos de crise climática, devem ser
valorizados. Reflorestemos as áreas destruídas.
Lutaremos contra todas as formas de morte.
Parte das elites políticas e econômicas do Brasil enxergam a floresta da mesma forma que enxergam
as mulheres: como um corpo para violação e exploração.
As mulheres lideram as lutas na Amazônia e, como a floresta, são também, junto com a juventude
negra e pobre, as que mais sofrem violência. Precisamos barrar a violação dos corpos.
Lutaremos contra todas as formas de morte.
Vocês veem a floresta e os rios como mercadoria, como recursos a serem explorados. Vocês veem os
humanos e os não humanos como descartáveis. Vocês são os que tiveram a alma asfixiada por
concreto. Vocês são os que não amam nem mesmo os próprios filhos porque não se importam
se eles não tiverem futuro.
Lutaremos contra todas as formas de morte.
Nós somos aqueles e aquelas que não possuem a floresta. Nós somos floresta. Nós somos aqueles e
aquelas que não destruímos a natureza. Nós somos natureza. Nós somos aqueles e aquelas que temos
várias cores e formas e línguas e sexualidades e cosmologias e culturas.
Somos também aqueles e aquelas que fazemos das diferenças a nossa força. Os que respeitam todas
as gentes, as humanas e as não humanas. Aqueles e aquelas que querem viver e fazer viver. Somos
também aqueles e aquelas que sabem que não há os de dentro e os de fora. Somos todos e todas de
dentro na única casa que temos. Nós somos aqueles e aquelas que queremos garantir um futuro até
mesmo para os filhos daquele que tentam nos destruir.
Nossa aliança é pela descolonização de almas e mentes. Unidos no centro do mundo, somaremos o
conhecimento dos intelectuais da floresta ao dos intelectuais da universidade; articularemos a
experiência dos mais velhos à potência dos mais jovens; faremos o diálogo das identidades;
respeitaremos todos os corpos. Sonhamos uma educação com a comunidade e não para a comunidade.
Sabemos que só existirá floresta enquanto existirem os povos da floresta. Estaremos juntos, como
múltiplos de um, nas lutas de todas as Amazônias. Onde a floresta sangrar, nós estaremos.
Lutaremos contra todas as formas de morte.
Queremos amazonizar o mundo e amazonizar a nós mesmos.
Liderados pelos povos da floresta, queremos refundar o que chamamos de humano e voltar
a imaginar um futuro onde possamos viver.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

A Inversão Pedagógica


A INVERSÃO PEDAGÓGICA

* José Roberto Prates

A inversão pedagógica não é tão fácil de explicar nem de aplicar. Inclusive a aplicação dificilmente ocorre como planejada, quase sempre sofre flexibilização do planejamento durante a aplicação, dependendo da interação com os educandos, num processo de aprendizagem ativa.
Algo de interessante na pedagogia invertida é que esta não vem para facilitar a vida do professor, educador, moderador ou pesquisador cartógrafo, conforme a denominação adotada ao facilitador do processo de aprendizagem, mas sim potencializar o processo de aprendizagem e fazer com que tal processo seja mais eficiente e tenha mais eficácia, conforme demandas da contemporaneidade dos novos tempos de nossas sociedades, com dinâmicas totalmente diferenciadas, exigindo assim adequações de lugar a lugar, de comunidade a comunidade, tanto urbanas como rurais.
Assim como afirmou na aula inaugural deste Curso, em 13 de novembro de 2018, a professora Dra. Raquel Lopes, não por acaso a coordenadora desta especialização, que a pedagogia invertida é um processo de ensino-aprendizagem COM a comunidade e não PARA a comunidade. Entender tal relação entre o COM e o PARA é fundamental como estratégia da inversão pedagógica. Mas não apenas isso.
Assim, a flexibilidade do planejamento das aulas é outro diferencial também relevante, inclusive porque a interação dos educandos na aplicação dos conteúdos planejados, pode interferir no planejamento da aula, possibilitando sua modificação, conforme a demanda apresentada durante a aula. Como isso não pode ser previsto com antecedência, estimula que o professor, como educador cartógrafo, no planejamento da aula, tente imaginar possíveis cenários de futuro, o que não é nada fácil, muito pelo contrário, é uma das dificuldades do processo de planejamento da aula invertida, mas que pode ser considerado “ossos do ofício”, ou um desafio ao educador de tentar prever o futuro, que pode ser mais ou menos difícil conforme o seu conhecimento da comunidade, dos educandos e seus modos de vida. Mas é certo que o planejamento da aula se torna mais desafiador, devendo já prever alguma flexibilidade. Isso ou aquilo, ou nenhuma coisa nem outra.
Por conceito de nossa própria autoria, considera-se o educador cartógrafo, aquele educador social que orienta qualquer conteúdo baseado numa visão holística, multidisciplinar, relacionando a aprendizagem como processo de subjetivação e produção de mundos, não com regras rígidas, mas com a flexibilidade inerente ao desenho da leitura do território da comunidade em que vivem seus alunos.
No planejamento das aulas invertidas, incluir atividades onde os educandos estejam diretamente envolvidos, ocupando o aluno de alguma maneira é sempre saudável, tanto falando, cantando, dançando, ouvindo, vendo, assistindo, jogando, movimentando e fazendo algum ruído. Um pouco de barulho contribui com a inversão pedagógica. Também pode o educando estar escrevendo, desenhando ou pintando, onde a intervenção do educador seja menos importante ou influente que a ação dos próprios alunos, oferecendo maior protagonismo dos educandos no processo de aprendizagem, principalmente quando se trata de conteúdo envolvendo conhecimento e/ou informação da própria comunidade, relativo a qualquer ciência ou técnica. Isto por considerar, que tanto as técnicas quanto as ciências presentes no conteúdo das disciplinas, ocorrem sempre no cotidiano da comunidade e em situações específicas pode e deve ser aproveitada a vivência dos próprios educandos e seus familiares na discussão e internalização de um conhecimento componente do conteúdo em estudo num curso em andamento, em qualquer grau da educação, do ensino básico ao médio, tanto em comunidade rural ou urbana, cabendo ao educador cartógrafo identificar a melhor maneira de inserir tais vivências no planejamento da aula invertida.
As tecnologias também são alvos importantes no planejamento, tanto como tarefas para os alunos, como o próprio educador realizar a produção de áudios (entrevistas ou depoimentos próprios ou de terceiros) ou áudio visuais (vídeos caseiros de curta duração, com ou sem edição), expondo os assuntos em estudo, subsídios de debates ou rodas de conversas na sala ou em momentos extra sala de aula. Cabendo ao educador cartógrafo programar tais tarefas com o devido tempo de antecedência para permitir que sejam produzidas essas tarefas, que são possíveis pela presença cada vez mais frequente dos smartfone, iphone, tablets, ou similares ao alcance dos educando tanto nas cidades como na zona rural e os aplicativos cada vez mais acessíveis e fáceis de operar, independente da idade ou grau de instrução dos educandos.
Fator relevante é a solidariedade entre os educandos tanto em sala de aula como fora dela, ajudando-se mutuamente com trocas de informações, diálogos envolvendo os colegas e o educador cartógrafo, que deve incentivar tais diálogos, inclusive inserindo-as no próprio planejamento. O lugar de fala de cada aluno buscando as respostas dos colegas deve ser estimulado e disponibilizado parte do tempo das aulas para isto. Temos comprovado cada vez mais que quanto mais se fala, mais se apreende determinada informação. Sendo aconselhável que os educandos falem mais sobre os assuntos dos conteúdos curriculares, para que os internalizem e os tornem conhecimento assimilado.
Fundamental na pedagogia invertida é o educador cartógrafo ter a mente aberta para mudanças de rumo durante a aula, exigindo criatividade para adotar outras providências, ou por iniciativa própria ou por sugestão dos educandos, quando alguma coisa prevista no planejamento não acontece como imaginado ou surge outra possibilidade de abordagem, se dispor a flexibilizar o planejamento e experimentar o método cartográfico de seguir pistas em vez de manter regras rígidas, considerando que uma aula pela pedagogia invertida não é um jogo de regras pré-determinadas, que não podem ser mudadas depois do jogo iniciado, uma aula pela pedagogia invertida pode sim mudar de regra durante a aula, com o consentimento dos educandos e avaliando-se que ao seguir novas pistas, o resultado da apresentação do conteúdo poderá ser ampliado, com a obtenção de maior aproveitamento no aprendizado pelos educandos na assimilação das informações do conhecimento em pauta, e possivelmente com maior protagonismo destes no processo de aprendizagem.
O educador cartógrafo precisa ter paciência e tolerância com as críticas, indecisões e indagações dos educandos e outros da comunidade com os procedimentos e inovações adotados no processo de execução das aulas, considerando que não é de uma hora para outra que se mudará um padrão de escola e sala de aula de método rígido enraizado na memória dos educandos e suas famílias das populações dos territórios.
Considera-se também que o processo de aprendizagem na sala de aula invertida não ocorre somente na sala de aula. O planejamento de cada aula, deve considerar também as próximas aulas, bem como o intervalo entre uma aula e outra. Os alunos devem também entender que nesta pedagogia, a alternância entre as aulas na escola e a vivência fora da sala de aula, se interligam, que o conhecimento ocorre em todos os espaços e em todos os momentos, às vezes com maior eficiência, fora da sala da aula, devendo o educando estar atento e compreender que o processo de aprendizagem pela pedagogia invertida ocorre num período contínuo de vivência, também com a família, no trabalho, no lazer, na igreja, no caminho da escola para casa ou da casa para a escola. E que as vivências devem ser devolvidas pelo educando na próxima aula para os colegas e para o professor, relacionadas ao conteúdo em estudo. Um dos motivos do processo de pedagogia invertida receber a denominação de aprendizagem ativa.
Na pedagogia invertida, o uso de tecnologia e comunicação eletrônica é frequente, E-mails trocados entre professor e alunos, e, entre os próprios alunos, postagens em grupo de WhatsApp, grupos no Facebook, pesquisas no Google, Wikipédia e outras fontes virtuais, inclusive livros no formato e-book, tudo acessível no aparelho celular onde tem sinal de internet, via wifi ou dados móveis.
Falam por si, os infográficos apresentados pelo professor Luís Antônio Schneiders, na publicação O Método da Sala de Aula invertida (flipped classroom), na Coletânea Cadernos Pedagógicos: Metodologias Ativas de Aprendizagem de 2018, da CETEC - UNIVATES, a seguir, que nos dá uma razoável dimensão da retenção de aprendizado de conteúdo, em comparação com outros métodos de ensino.

OBS: AS FIGURAS 1, 2 E 3 SEGUEM NA PUBLICAÇÃO A SEGUIR.



FIGURA 1 -  O MÉTODO DA SALA DE AULA INVERTIDA (FLIPPED CLASSROOM) – PÁGINA 8

            Fonte: Luís Antônio Schneiders.




FIGURA 2 – PLANEJAMENTO E ALTERNÂNCIA




FIGURA 3 - O MÉTODO DA SALA DE AULA INVERTIDA (FLIPPED CLASSROOM) – PÁGINA 12



Analisando comparativamente o método pedagógico tradicional versus o método da pedagogia invertida, afirma-se então, que no sistema tradicional, rígido, onde o papel do professor se assemelha mais a um palestrante repassador de conhecimento para os alunos, os resultados têm sido pouco efetivos em aprendizagem, com baixa retenção de conhecimento e desmotivador, com excesso de evasão e repetência. Figura 1
...Por favor! Quando os sujeitos são outros,
A pedagogia precisa ser outra!
A pedagogia precisa entender
a realidade teórica dos movimentos sociais
A pedagogia precisa respeitar
Outra concepção de mundo,
Sujeitos e Relações Sociais”
(Prates, 2019)
Então, com a pedagogia invertida, tem-se buscado construir uma nova “professoralidade”, em virtude da mudança do papel do professor nesta inversão, na qual não é o professor que ensina, mas sim o processo pedagógico, animado, coordenado, monitorado, mas não protagonizado pelo professor, onde o professor também aprende com o processo, com a comunidade com a vivência do alunado, construindo sua própria professoralidade.
Tempos de repolitizados processos de opressão. Tempos de reaprender com Paulo Freire o que ele aprendeu: deixar-nos interrogar pelos Oprimidos, por suas Pedagogias de Oprimidos. Aprender que os Oprimidos resistem à opressão e resistindo se humanizam. Se educam e educam o Estado opressor. Educam a Política. Educam a sociedade opressora. Educam o pensamento pedagógico. Educam a Educação. Como Educadores e Educadoras deixemo-nos não só interrogar, deixemo-nos educar pelos Oprimidos. (Arroyo, 2019)
Da leitura de Arroyo (2019), acredita-se que aprender e exercitar o método da pedagogia invertida, possibilita ampliar o acúmulo do aprendizado nos educandos em nossas escolas, nos diversos níveis de ensino, considerando que a “flipped classroom”, como é conhecida a “sala de aula invertida”, ou a inversão pedagógica, consiste em transformar os meios tecnológicos mais usados pelos estudantes em favor do aprendizado, do professor propor um plano de aula e o divulgar com antecedência aos alunos, para que eles o estudem fora da sala de aula, sozinhos ou em grupo, e na aula propriamente dita, sejam tiradas as duvidas, ou sejam realizados exercícios do aprendizado, ou ainda dos alunos apresentarem seus pontos de vista sobre o tema estudado. E na aula o professor interage com os educandos, tirando dúvidas, avaliando na aula as ideias apresentadas pelos alunos. Figura 2.
Um mérito considerado deste método pedagógico é o trabalho colaborativo, onde a informação compartilhada entre os alunos, adicionada ao conhecimento do professor potencializa os horizontes do aprendizado, em função da soma das informações disseminadas durante a aula oferecer como resultado maior contemplação sobre o tema exposto, (http://canaldoensino, 2020).
Porém, para assegurar o êxito da inversão pedagógica como método, algumas regras devem ser aplicadas, particularmente relativas ao foco no tema proposto, na mediação de conflitos na divergência de ideias, bem como ao tempo de exposição de pontos de vista sobre o assunto, tanto pelos alunos como pelo professor. Entre outros, alguns benefícios que podem ser elencados do método da inversão pedagógica, alguns já observados nos infográficos acima expostos, principalmente na figura 3.
a)      Eliminar a rotina na turma,
b)      Contribuir com a integração,
c)      Dinamizar as aulas,
d)     Ampliar a autoestima dos alunos,
e)      Usar as tecnologias a favor da concentração no tema em estudo,
f)       Proatividade e participação em sala de aula
g)      Ampliar do interesse dos estudantes,
h)      Aumentar o protagonismo dos alunos,
i)        Maior retenção de aprendizado.

Para tanto, o gerenciamento do método exige grande atenção do professor, começando pelo planejamento da aula, mas também na orientação para as tarefas extra classe dos educandos. por exemplo: desafiando o aluno a produzir de forma simples, em poucas palavras, algum material sobre o conteúdo apresentado, um áudio, um vídeo, ou um pequeno texto, com o que apreendeu do assunto estudado. O desafio pode ir além, com o aguçamento da criatividade, sugerindo a criação ou adaptação de jogos ou passatempos.
Como abordado anteriormente, o apoio da tecnologia é uma das principais características da inversão pedagógica, com criatividade, dinâmica, uso de redes sociais, sites temáticos, ou mesmo games e quizzes (Palavras-Cruzadas, Caça Palavras, Anagramas, Quebra-Cabeças, Passatempos, etc), voltados à promoção da educação, ensino com união, cooperação solidariedade, motivação e criatividade.
O plano de aula é essencial, inclusive considerando possibilidades de improvisos, de forma a possibilitar maior captação e transferência de informação, considerando um único tema ser analisado e discutido sob variados pontos de vista e gerando argumentação ativa e multifocal, onde o autoritarismo se desfaz em detrimento do respeito, da amizade e solidariedade, processo no qual o papel do professor é de coleguismo associado à liderança. Assim tal plano de aula deve considerar:
a)      Definição de tema;
b)      Referências teóricas;
c)      Planejamento de recursos a usar na aula;
d)     Quais redes sociais serão utilizadas;
e)      Comunicação aos educandos sobre a dinâmica extra classe e na sala de aula;
f)       Buscar colaboração dos pais dos alunos caso sejam crianças;
g)      Desafio em redes sociais, sobre as reflexões e analises extra classe sobre o tema;
h)       Incentivo aos alunos para abordar em sala de aula suas ideias sobre o tema
i)        Fixação de tempo que cada aluno terá para expor sua ideia em sala de aula;
j)        Sobre cada aula: refletir, nortear, considerar e registrar.




CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando como desafios da educação no Brasil contemporâneo, numa conjuntura sombria, com um governo confuso entre as dubiedades da democracia líquida, considerada até mesmo como uma sociedade da pós verdade, outras professoralidades precisam ser experimentadas, bem como outras pedagogias exercitadas, por termos outros sujeitos compondo mesmas turmas, em face da heterogeneidade dos públicos estudantis nos nossos territórios, desde faixas etárias diferenciadas, origens étnicas e níveis de rendas diversos, considera-se ainda que:
Somos sujeitos coletivos, classes sociais! Por favor
Exercitemos a pedagogia do oprimido
A opressão existe, insiste, persiste
Como sujeitos devemos insistir, não desistir
Exercitemos a pedagogia da indignação
Contra a brutalidade da realidade social
Os movimentos sociais conscientes crescem
Mas a violência do capital é desproporcional
(Prates, 2019)

Assim, a sala de aula invertida se coloca como opção pedagógica, oportunizando as alternâncias entre o tempo escola e tempo comunidade, o diálogo entre a família e outros espaços de vivência no território, como religião, lazer, trabalho e outras vivência comunitária, proporcionando possibilidades de aprendizado com a própria realidade, que deve ser explorado no planejamento das aulas pelo professor, que deve se aproveitar dos elementos da vivência dos alunos e suas famílias em comunidade no processo de ensino aprendizagem pelo método da inversão pedagógica.



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS
ARROYO, Miguel, Imagens Quebradas , Trajetórias e Tempos de Alunos e Mestres, Petrópoles: Vozes, 2009
__________, PAULO FREIRE: UM OUTRO PARADIGMA PEDAGÓGICO? Educação em Revista, Belo Horizonte - MG, UFMG, 2019, Disponível em http://educacaoemrevistaufmg.com.br/?artigo=paulo-freire-outro-paradigma-pedagogico Acessado em 15.10.2019
OLIVEIRA, Grasiela Lima de, FREIXO, Alessandra Alexandre, A Vida, o Campo e a Cidade em Alternância: Docentes do Campo Construindo suas Professoralidades, in TP. pens_ed.2019. Vol14. N38.pp179-196, disponível em https://interin.utp.br/index.php/a/article/view/2138 Acessado em 19.12.2019
PASSOS Eduardo, KASTRUP, Virgínia, ESCÓSSIA, Liliana da, Pistas do Método da Cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade, UFRGS, Porto Alegre – RS: Editora Sulina, 2009
PRATES, José Roberto, Já dizia Miguel Arroyo: por favor pedagogia, Poema, Altamira, Coletivo Poetas Marginais, 2019
SCHNEIDERS, Luís Antônio, O Método da Sala de Aula invertida (flipped classroom), Coletânea Cadernos Pedagógicos, Lajeado – R.S, CETEC – UNIVATES, 2018



* O autor produziu este texto como parte da monografia de conclusão do curso de Pós Graduação, latu sensu, de Especialização “Educação por inversão pedagógica: inclusão para emancipação de territórios socioeducativos na Transamazônica e Xingu”, oferecido pela Faculdade de Etnodiversidade da UFPA – Campus Altamira, concluído em março de 2020.

FIGURAS 1, 2 e 3 - A Inversão Pedagógica




quinta-feira, 2 de abril de 2020

CAMPANHA APOIO FAMILIAS CARENTES

Texto da Campanha dos Movimentos Sociais, para arrecadação através do site A VAQUINHA, para apoiar familias carentes da cidade de Altamira, com aquisição de cestas básicas de alimentos e material de limpeza.


Nós, periféricos da cidade mais violenta da Amazônia, a maioria negros, sobrevivemos com muito esforço em tempos normais. Nós, ribeirinhos expulsos por Belo Monte, costumávamos receber tudo da floresta. Hoje estamos confinados em Reassentamentos Urbanos Coletivos (RUCs) nas periferias da cidade, ameaçados pela fome e pela doença, enquanto esperamos um reassentamento no reservatório da usina que nunca acontece. Nós, indígenas desaldeados, empurrados para as margens da cidade por aquilo que vocês chamam “progresso” e nós chamamos “morte”, temos ainda menos resistência a todas as doenças que vocês já trouxeram até nós. 
Nós, pobres expulsos de nossas casas perto do centro da cidade, onde ganhávamos a vida com dureza mas também com possibilidade, fomos jogados nos RUCs onde seguidamente passamos semanas sem nem mesmo água nas torneiras. Nós, que ainda moramos ao redor da Lagoa que, desde a construção de Belo Monte, transborda nas chuvas invadindo nossas casas com até metros de esgoto e de lixo, lutamos contra todos os vírus e bactérias e ainda contra a fome que nos engole um pouco por dia. Agora, estamos ameaçados também por uma pandemia.
Nós somos homens e mulheres que ganhavam a vida com bicos e que desde o aparecimento do novo coronavírus não temos mais para quem vender nossos pasteis, nossas tapiocas e também nossa força de trabalho, sempre alugada a preço de quase escravo, porque já não podemos andar nas ruas. Nós somos adultos e somos crianças trancados dentro de casas apertadas demais, muitas sem saneamento básico, num calor de mais de 30 graus e com a comida desaparecendo. Nós somos os desesperados da nova peste.
Nós, mulheres e homens, adultos e crianças de Altamira, enfrentamos, neste momento, um surto de dengue que abala ainda mais nossos corpos subnutridos. E enfrentamos tudo isso num sistema de saúde pública que não recebe recursos suficientes para enfrentar nem mesmo as doenças mais básicas. Nós já morríamos das gripes comuns.
Nós, periféricos de Altamira e refugiados de Belo Monte, vivemos dia após dia na catástrofe. Nosso normal é brutal. Até hoje, a maioria de nós sobreviveu ao genocídio silencioso porque, apesar de nossos corpos arrebentados por todas as violências, nos recusamos a desistir. Desta vez, porém, não conseguiremos sozinhos.
A campanha pretende inicialmente arrecadar 40 mil para custear 200 cestas básicas + produtos de limpeza para 200 famílias em extrema vulnerabilidade mapeadas inicialmente pelo  Movimento Xingu Vivo Para Sempre, Movimento dos Atingidos Por Barragens , Coletivo de Mulheres Negras Maria Maria,  Movimento de Mulheres Trabalhadora do Campo e Cidade e Centro de formação do Negro e Negra da Transamazônica e Xingu. Parte dos alimentos dessa cesta serão adquiridos juntos a agricultores familiares e ribeirinhos da região.
Brasis, ajudem-nos a não morrer.

Fique em casa


EM TEMPO  DE CORONAVÍRUS

O DISTANCIAMENTO SOCIAL 


É A SOLUÇÃO  PARA DIFICULTAR 


A  DISSEMINAÇÃO DESSE ASSASSINO 


INVISÍVEL A OLHO NÚ,


MAS QUE CHEGA  EM TODOS OS LUGARES 


ONDE VOCÊ PODE ESTAR.


O MELHOR É NÃO SAIR DE CASA


E CUIDAR PARA QUE  NINGUÉM O TRAGA 


PARA O SEU LAR...

BATUQUE X NEGRA FULÔ (Bruno de Menezes X Jorge de Lima)


Universidade Federal do Pará – UFPA
Faculdade de Etnodiversidade
Pós graduação latu senso: Educação por inversão pedagógica: Inclusão para emancipação de territórios socioeducativos na Transamazônica e Xingu
Disciplina: A literatura marginal da Amazônia
Docente: Prof. Dr. Paulo Vieira
Discente: Jose Roberto Rodrigues Prates

Reflexões sobre os poemas Essa Negra Fulô (Jorge de Lima) e Batuque (Bruno de Menezes)

Primeiramente podemos considerar muito prazeiroso realizar uma reflexão sobre dois poemas de dois magistrais autores com um tema à respeito da negritude feminina. Nos referimos ao prazer, principalmente pela qualidade desses versos.
Ambos autores nasceram no mesmo ano, 1893 e no período que atuaram com literatura o modernismo veio a predominar como estilo literário. Inclusive o período mais importante da história brasileira para as artes, não só para a literatura, mas também para outras modalidades artísticas como a pintura e escultura, lembrando Oswald de Andrade, Di Cavalcante, Anita Malfatti que se destacaram no evento da semana de arte moderna de fevereiro de 1922.
Assim, ambos beberam da influência dos modernistas paulistas, principalmente o Jorge de Lima que era Deputado Federal na época, atuando no Rio de janeiro. Bruno de Menezes na sua juventude encadernador gráfico, articulava com os jovens belenenses, “a academia ao ar livre”, com os “Vândalos do Apocalipse” e posteriormente a “Academia do Peixe Frito”, quando discutia com outros literatos paraenses, a exemplo de Dalcidio Jurandir, inovações na literatura, e numa situação relativamente avançada, tanto que os autores paulistanos e cariocas, tidos como a vanguarda do modernismo, vieram para Belém trocar experiências literárias com Bruno de Menezes e seus colegas da literatura.
Assim, entre Batuque e A Nega Fulô, um dos pontos que se observa com relevância é a diferença entre o papel da negritude ressaltada nos poemas, enquanto que em Batuque a diversão das negras dançando e aplicando perfumes de cheiros e sua frequência em festas, n’Essa Negra Fulô, o trabalho e a exploração da escrava nos serviços domésticos e de atenção e cuidados pessoais da Sinhá.
“Ô Fulô! Ô Fulô
(Era a fala da Sinhá)
-- Vai forrar a minha cama
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!”

Estes versos do Essa Negra Fulô se diferenciam substancialmente dos versos do Batuque:
Rufa o batuque na cadência alucinante
do jongo do samba na onda que banza.
Desnalgamentos bamboleios sapateios, cirandeios
cabindas cantando lundus das cubatas.

Patichouli cipó-catinga priprioca
Baunilha pau-rosa orisa jasmim.
Gaforinhas riscadas abertas ao meio,
Crioulas mulatas gente pixaim...

Da mesma forma que os autores, nestes dois poemas se diferenciam relativo a alguns aspectos da vida da negritude, por outro lado se assemelham noutros, particularmente relativo à sensualidade e beleza das afrodescendentes, como se pode deduzir dos seguintes versos de ambos poemas:

O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dêle pulou
nuinha a negra Fulô.

E rola e ronda e ginga e tomba e funga e samba, 
a onda que afunda na cadência sensual. 
O batuque rebate rufando banseiros, 
As carnes retremem na dança carnal!...

Relativo a qualidade literária, ouvi de um leitor que “gosto não se discute”, entretanto, devido à popularidade, impertinência, disposição para se indispor contra o sistema escravocrata, pelo menos no Batuque são citados cinco dos maiores expoentes da abolição e defesa dos negros no Brasil como princesa Izabel, que assinou a lei Áurea, José do Patrocínio e Joaquim Nabuco, lideranças do movimento abolicionista, Visconde do Rio Branco, autor da lei do Ventre Livre e Eusébio de Queiroz autor das lei que proibiu o tráfico de escravos e lei do Sexagenário, pela atitude progressista e engajada, deveria ser mais publicada e conhecida que o poema do Jorge de Lima, que se refere a  humilhação e açoite da escrava, acusada injustamente de ter roubado as joias e o perfume da sinhá, e no entanto, Essa Negra Fulô é um dos poemas brasileiros mais publicados, mais estudados, mais citados, embora seu autor, um médico e político sisudo, como Jorge de Lima, o oposto do operário de editora, poeta marginal, frequentador de botequim e da feira do ver o peso, vândalo do apocalipse e adepto da academia do peixe frito, amigo de contestadores como Dalcídio Jurandir.
Creio que talvez seja o caso divulgarmos mais o Batuque, inserí-lo em redes sociais, para fazer tanto o poema como seu autor mais conhecidos, para maior estímulo à publicação deste poema, sugerir sua inclusão em provas como o ENEM e incentivar sua declamação nos saraus de poesia marginal que ocorrem com frequência aqui na cidade de Altamira.
Altamira(PA), 27 de julho de 2019

Referência Bibliográficas

A INTEGRA DOS POEMAS COMPARADOS ACIMA

BATUQUE
                                              Bruno de Menezes
“Nêga qui tu tem?
Maribondo Sinhá!
Nêga qui tu tem?
Maribondo Sinhá!”

Rufa o batuque na cadência alucinante
do jongo do samba na onda que banza.
Desnalgamentos bamboleios sapateios,
cirandeios cabindas cantando lundus das cubatas.

Patichouli cipó-catinga priprioca
Baunilha pau-rosa orisa jasmim.
Gaforinhas riscadas abertas ao meio,
crioulas mulatas gente pixaim...

“Nêga qui tu tem?
Maribondo Sinhá!
“Nêga qui tu tem?
Maribondo Sinhá!

Sudorancias bunduns mesclam-se intoxicantes
no fartum dos suarentos corpos lisos lustrosos.
Ventres empinam-se no arrojo da umbigada,
as palmas batem o compasso da toada.

“Eu tava na minha roça
maribondo me mordeu!...”

Ó princesa Izabel! Patrocínio! Nabuco!
Visconde do Rio Branco!
Euzébio de Queiroz!

E o batuque batendo e a cantiga cantando
lembram na noite morna a tragédia da raça!

Mãe Preta deu sangue branco a muito “Sinhô moço”...

“Maribondo no meu corpo!
Maribondo Sinhá.!

Roupas de renda a lua lava no terreiro,
um cheiro forte de resinas mandigueiras
vem da floresta e entra nos corpos em requebros.

“Nêga qui tu tem
Maribondo Sinhá!
Maribondo num dexa
Nêga trabalha!...”

E rola e ronda e ginga e tomba e funga e samba,
a onda que afunda na cadência sensual.
O batuque rebate rufando banseiros,
as carnes retremem na dansa carnal!...

“Maribondo no meu corpo!
Maribondo Sinhá!
É por cima é por baxo!
E por todo lugá!”
                                                                            (MENEZES, 2005, p. 19-20)


ESSA NEGA FULÔ
                                                      Jorge de Lima

Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha,
chamada negra Fulô.

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!


— Vai forrar a minha cama
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)

Essa negrinha Fulô!
ficou logo pra mucama
pra vigiar a Sinhá,
pra engomar pro Sinhô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!
vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô!


Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá
Chamando a negra Fulô!)
Cadê meu frasco de cheiro
Que teu Sinhô me mandou?
— Ah! Foi você que roubou!
Ah! Foi você que roubou!

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa,
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô).

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê meu lenço de rendas,
Cadê meu cinto, meu broche,
Cadê o meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah! foi você que roubou!
Ah! foi você que roubou!

O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dêle pulou
nuinha a negra Fulô.

Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê, cadê teu Sinhô
que Nosso Senhor me mandou?
Ah! Foi você que roubou,
foi você, negra fulô?
https://viciodapoesia.com/2011/02/03/essa-nega-fulo-e-outros-poemas-de-jorge-de-lima-1895-1953/