quinta-feira, 2 de abril de 2020

LAZER na cidade de Altamira - Pará




Universidade Federal do Pará – UFPA
Campus de Altamira
Faculdade de Etnodiversidade

Pós graduação latu senso: Educação por inversão pedagógica: Inclusão para emancipação de territórios socioeducativos na Transamazônica e Xingu
Disciplina: Terra, Território e Populações na Amazônia
Docente: Prof. Francivaldo José Mendes
Discente: Jose Roberto Rodrigues Prates

Lazer em Altamira
Altamira e a região do Xingu como outras regiões do país, não oferece adequados espaços e oportunidades de lazer, cada pessoa ou grupo de pessoas interessados em determinada atividade recreativa, que se vire como puder para conseguir praticar as atividades pretendidas para o seu entretenimento ou lazer, sejam eventos culturais, desportivos ou passeio de “passa tempo”.
Considerando a relação entre o lazer, o território e a territorialidade, a situação de Altamira se tornou mais complexa a partir da implantação da UHE Belo Monte, em virtude do processo de desterritorialização da região do Xingu (HERRERA E SANTANA, 2016).
Na cidade de Altamira, tanto os espaços das margens do rio Xingu, como as áreas mais distantes destas, onde foram implantados novas áreas de habitação e vivência, ocupando parte da légua patrimonial urbana, outrora utilizada como fazendas de criação de gado bovino e desapropriadas pela empresa empreendedora da hidrelétrica para implantação dos novos bairros. Tal situação afastou parcela da população do centro da cidade que também ficou com maior adensamento populacional. Constatou o professor Francivaldo na sua pesquisa o significativo aumento de espaços privados, objetivando lucros de negócios com as oportunidades da prática de atividades de lazer. Tanto quadras esportivas, academias de ginástica, bem como bares e casas de festa.
De modo geral, é preciso estar atento para captar e traduzir aquelas práticas que vão de encontro à realidade posta. Em Altamira, tem sido possível notar que, ao que parece, mesmo com a negação de um direito social básico, somado às mais variadas adversidades de ordem social, as pessoas não ficam inertes. Desse modo, é possível notar o estabelecimento de uma gama de relações que ressignificam espaços permeados por características restritivas já descritas. Citando a praça da Independência como espaço dessa (re)apropriação, é válido registrar que às quintas-feiras, desde o ano de 2016, ocorre o sarau cultural dos “poetas marginais”, coletivo formado por educadores, estudantes dos vários níveis de ensino de diferentes bairros da cidade. Na ocasião, ocorrem recitais de poesias, apresentações teatrais e de bandas locais. No coreto central, as quartas-feiras ocorrerem apresentação de cantores locais (voz e violão). (MENDES, 2018,  pág. 39)
Vimos observar que rodas de capoeira antes existente em praças se fecharam em espaços interiores, deixando as praças para a poesia do Coletivo Poetas Marginais (https://iridio77.blogspot.com/2014/07/a-poesia-prevalece-um-ano-de-sarau.html), que mensalmente realiza saraus ora numa praça ora noutra (https://margemesquerdadoxingu.blogspot.com/2014/03/o-sarau-de-poesias-marginas-celebrou.html), sendo que da praça da Paz, no final da Avenida Djalma Dutra, que entre 2014 e 2016 tinha uma regularidade de ocorrência nas últimas sextas feiras de cada mês, ao migrar para a Praça da Independência a partir de 2017 essa regularidade não mais existiu, mesmo que os saraus continuem ocorrendo, com o mesmo formato de liberdade aos poetas e sempre com algum acompanhamento de uma ou outra banda musical ou músicos também marginais, na acepção da palavra, o marginal da literatura ressalta-se pelo fato de estarem os autores à margem da literatura formal, usando todas as licenças poéticas possíveis e imaginárias. Em novembro de 2017 o Coletivo Poetas Marginais “deu muito o que falar”, devido ao seu stand de poemas, fanzines, desenhos e fotos, expostos na primeira FLIX – Feira Literária Internacional do Xingu. Neste ano de 2019 de 12 a 15 de junho ocorreu a 2ª. FLIX. Salienta-se que em ambas as FLIX houve o Sarabalsa, que são saraus de poesia realizados em uma balsa circulando pelo rio Xingu (https://portal.ufpa.br/index.php/ultimas-noticias2/10278-projeto-sarabalsa-revive-tradicao-dos-antigos-saraus-na-ii-flix-em-altamira).
Algo de bom que também tem público garantido em entretenimento e diversão é a música popular brasileira. Altamira possui uma cena de rock and rol das mais movimentadas do Pará, possuindo muitas bandas musicais, que por não terem apoio de patrocinadores, têm atuação “underground”, o que dá nome ao MUT – Movimento Underground da Transamazônica, a ONG que articula eventos com as bandas de rock metal e outros ritmos pop como o reggae e o hap. Algumas das bandas contam até com com fã clubes, como as “Vey Keller” (Pop Rock), “Dona Lara” (Reggae) e a “Conexão Periferia” (Hap).
O Rock In Rio Xingu (https://www.confirmanoticia.com.br/altamira-sedia-7a-edicao-do-rock-in-rio-xingu/) é um evento anual que ocorre sempre no sábado mais próximo do dia 13 de julho de cada ano, em virtude da celebração do dia mundial do Rock. No 13 de julho de 2019 ocorreu a sétima versão deste evento que pretende-se ter continuidade por tempo indeterminado, tendo sido incluído, desde 2013, no calendário turístico do município de Altamira, aprovado em Conferência Municipal de Cultura, por iniciativa do MUT.

Conclusão
A despeito das dificuldades duma cidade em processo de disputa pela reterritorialização, as artes, os esportes, o “passa tempo”, o entretenimento, em suma o lazer é componente desta luta cultural, devendo portanto compor a pauta da movimentação do povo em luta também por infraestrutura, trabalho e renda, moradia digna, transporte, comunicação, saúde, educação, assistência social, democracia política, planejamento de políticas públicas e monitoramento da execução dessas políticas, por isso mesmo, mobilizando toda a população para a defesa dos seus legítimos direitos humanos.

Altamira(PA), 27 de julho de 2019
Referência Bibliográfica
    MENDES, Francivaldo, Lazer em Altamira – PA: um estudo a partir do RUC Laranjeiras, UFPA, Bragança-PA, 2018

    PASSOS Eduardo, KASTRUP Virgínia, ESCÓSSIA Liliana da, Pistas Método da Cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade, UFRGS, Porto Alegre – RS, Editora Sulina, 2009

    HERRERA, J. A.; SANTANA, N. C. Empreendimento hidrelétrico e famílias ribeirinhas na Amazônia: desterritorialização e resistência à construção da hidrelétrica Belo Monte, na Volta Grande do Xingu. Geousp – Espaço e Tempo (Online), v. 20, n. 2, p. 250-266, mês. 2016. ISSN 2179-0892.
Disponível em: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2179-0892. geousp.2014.84539.

    SOUZA, Marcelo Lopes de, Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial,
Bertrand Brasil Editora, Rio de Janeiro, 2013.


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