ZEHROB PRATES
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021
domingo, 24 de janeiro de 2021
sábado, 23 de janeiro de 2021
AMAZONIZAR ALTAMIRA: DECOLONIALIDADE E RETERRITORIALIDADE
Universidade
Federal do Oeste do Pará
Pró-reitoria
de pesquisa, Pós-graduação e Inovação Tecnológica
Instituto de
Ciências da Educação
Programa de
Pós-graduação em Educação
Decolonialismo
e formação nos contextos da cibercultura
AMAZONIZAR ALTAMIRA: DECOLONIALIDADE E RETERRITORIALIDADE
PRATES, José Roberto Rodrigues
RESUMO
Num breve período pandêmico, o mundo sofre mudanças em diversificados
setores do conhecimento, e a ciência tem dificuldade de explicar que num curto
espaço de poucos meses a educação formal e os métodos pedagógicos, e não
somente na educação, mas na saúde, nas artes e nos sistemas de produção, entre
outros setores das atividades/ações da humanidade, a influência das tecnologias
da informação e a cibercultura, tanto em hardwere como em softwere tenha
influência tão fundamental. Não que a Educação à distância – EAD ou também a
denominada educação remota, seja um fato novo, mas a quarentena, o
distanciamento social e a exigência de evitar aglomerações e proximidade nos
relacionamentos sociais, exigiu da tecnologia da informação, da comunicação
pelas redes sociais e pelas live, tanto para aulas teóricas e práticas,
reuniões de trabalho, reuniões de militância, eventos educativos, artísticos,
seminários, simpósios, congressos, espetáculos de música, teatro, saraus de
poesia e até mesmo sessões de plenários legislativos, comícios eleitorais, etc,
se obrigaram a serem realizados através de plataformas eletrônicas, as mais
diversas, umas mais, outras menos interativas, entretanto, nada parou, ao
contrário, parece que tudo se adiantou, sem contato presencial, no entanto numa
efervescência de ocorrências, tudo ao mesmo tempo agora. E ainda com a vantagem
da opção da possibilidade da gravação do evento para posterior visualização.
Neste sentido, de forma extraordinária, utilizando técnicas remotas e
presenciais este projeto consiste de uma intervenção social pública para
produzir ideias insumos para elaboração de um ensaio de planejamento da Agenda
2030 da ONU, (http://www.agenda2030.com.br/), através dos 17
temas dos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, almejando conduzir o
território de Altamira a se tornar um lugar de bem viver, uma sociedade do bem
estar, a “terra sem males”, sonho dos povos originários, que continuam sonhos
nossos, na atualidade.
Desta forma pensando no projeto 50 + 50, considerando o planejamento
dos próximos 50 anos, cremos que tanto a educação como outros políticas
transversais devem considerar a agenda 2030, planejando os 17 temas
transversais, particularmente o item 17 relativo às parcerias e meios para
implementação dos outros 16 itens da plataforma.
Justificativa
O processo de decolonialidade coincidindo com a reterritorialidade em
Altamira, como referência para outras localidades amazônicas ou de outros
biomas, devem ter a educação, a literatura e a cibercultura como ferramentas de
transformação, de luta, de conquistas de espaço geográfico em disputa.
Assim pela decolonialidade e reterritorialidade, deve-se concentrar
esforços na política cultural, educação por todas as modalidades que a
pedagogia oferece, arteeducação, educomunicação, tecnologia de informação, e o
conhecimento das diversificadas paisagens materiais e imateriais do território,
através da história dos processos de apropriação do poder no território desde
tempos imemoriais dos povos originários, populações tradicionais até os
recentes processos de imigração e de desterritorialização provocados pelos
grandes projetos econômicos e outros processos de colonização movidos por
interesses capitalistas, ou interesses governamentais com desconsideração da
justiça social e ambiental por este pedaço da Amazônia. Estudando Milton
Santos, Miguel Arroyo, Anibal Quijano, Pierre Levy, André Lemos, Boaventura
Souza Santos, Deni Alfaro Rubbo, bem como autores locais como Antonio Herrera,
José Neto, Ana Paula Santos, Carla Rocha, Leonardo Zenha, Raquel Lopes,
Raimunda Monteiro, Anderson Serra, José Neto, Ivonete Coutinho, Francivaldo
Mendes, Eliza Estronioli e outros autores que têm pesquisado e apresentado
dados consistentes da realidade cultural, social, econômica, ambiental e
política do território de Altamira e da sua relação de interdependência com a
Região do Xingu, bem como da integração das políticas públicas em nível local
como reflexo do global, para possibilitar pensar uma paisagem sustentável para
as próximas décadas, com profundo e absoluto respeito aos direitos humanos e à
ecologia integral, a partir dos temas da Agenda 2030 da ONU, considerando que
será por dentro da organização política mundial envolvida com a colonialidade
que poder-se-á eliminar as amarras da dominação, promover a decolonialidade e
produzir novas paisagens da reterritorialidade com sustentabilidade, liberdade,
qualidade de vida e justiça socioambiental. Um sonho justificável e realizável,
não apenas utopia.
Objetivos
Geral:
No longo prazo, conquistar a sociedade do bem viver, a terra sem males,
anseio dos ancestrais, num processo de desconstrução da violência social e
doméstica que estamos denominando de Amazonizar Altamira, como referência ou
exemplo demonstrativo para outras localidades.
Específicos:
1 - Planejar um a um os 17 temas da Agenda 2030 da plataforma dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU - (http://www.agenda2030.com.br/);
2 - Enfatizar a relação de transversalidade de cada um dos temas ao
ser visto cada um individualmente;
3 - Agrupar as afinidades temáticas, para facilitar a produção de
resultados no processo de planejamento considerando as transversalidades;
4 - Sistematizar um Plano de Ação executável a partir de mobilização
social;
5 - Implantar uma campanha de publicidade para dar visibilidade ao
plano e mobilizar público para sua execução.
6 - Assegurar sustentabilidade aos meios, modos e sistemas de produção
e consumo, respeitando as diferenças. contemplando a diversidade cultural dos
grupos populacionais do território.
7 - Contemplar a participação de todos os segmentos étnico raciais,
sem discriminação de gênero, raça, credo, origem, orientação sexual ou outras
diferenças da diversidade cultural.
Metas
Tornar nossas armas mais poderosas que as armas do inimigo, nossa arma
é nossa voz nossa munição é nossa palavra, por nossa voz consideremos as redes
sociais, os programas de rádio, o poema, o texto, o ensaio literário, o texto
de teatro, e outros elementos de linguagem que emitam opiniões sobre a
contracultura, usar a tecnologia da informação, para dizer a verdade, de forma
lúdica, atraente e convincente.
Concorrer com este texto do planejamento de Altamira para os próximos
50 anos através da Agenda 2030, ao prêmio de literatura do Festival Cultural 50
+ 50, programado para 2022, quando completará 50 anos da inauguração da BR 230
– Rodovia Cel. Mário Andreaza, mais conhecida com Transamazônica, em 1972. O
Festival Cultural 50 + 50, objetiva celebrar o cinquentenário da BR 230 e
pensar o planejamento dos próximos 50 anos, por isso buscando adiantar tal
processo pensamos em trabalhar esta meta do Festival, lançando durante o evento
e concorrendo a um dos seus prêmios, uma publicação apresentando uma das suas
metas. Um tanto ambicioso, mas a bem do coletivo, Altamira como território
existencial pode ambicionar pela sua espiritualidade transcendental, se
reterritorializar através de um processo de decolonialidade.
Metodologia/operacionalização
1 – Constituir parcerias para dar suporte executivo, técnico e político
ao projeto na realização das atividades/ações da intervenção social.
2 – Programar e realizar uma jornada de rodas de conversa com o tema “Amazonizar Altamira: processo de decolonialidade
e reterritorialidade”, em 07 (sete) escolas, da UFPA (Faculdade de
Educação, Faculdade de Geografia e Faculdade de Etnodiversidade), UEPA, IFPA, e
Escolas Estaduais de Ensino Médio (Polivalente e Dairce Pedroza), e dos debates
e discussões nas rodas de conversa, extrair/colher informações, ideias,
sugestões, subsídios, naturalmente dando o crédito aos seus autores, para
enriquecer as reflexões e propostas do planejamento da Agenda 2030 de ONU,
sobre cada um dos 17 ODS – Objetivo de Desenvolvimento Sustentável. Vale
ressaltar que tais rodas de conversas, apesar de abertas ao público e com ampla
divulgação, não almeja grande quantidade de participantes, mas sim qualidade
dos participantes em oportunizar argumentos e proposições sobre os temas em
discussão.
3 – Realizar uma live com tema, em uma rede social, apresentando o
assunto e solicitando contribuições dos participantes com tal debate para
oferecer subsídios e enriquecer a discussão sobre os temas, considerando a
transversalidade entre os mesmos.
4 - Coletar todos os argumentos apresentados nos eventos tanto virtual
como presencial.
5 - Viabilizar financiamento para as atividades que demandarão custos
para realizar.
6 – Sistematizar, buscar relacionar autores com os temas em discussão,
diagramar e editar uma publicação observando tanto quanto possível, as normas
da ABNT para publicação científica, embora o exercício/experiência tenha mais
interesse prático e político que teórico e acadêmico.
7 – Viabilizar a impressão da primeira edição com no mínimo 1.000
exemplares.
Cronograma
Em virtude desta Pandemia da Covid 19, que mesmo que ocorra a vacinação massiva em
breve, não dará segurança para realização de atividades que envolvam
aglomeração, num curto prazo, como as rodas de conversa, portanto estas somente
ocorrerão num segundo momento, as primeiras etapas consistirão da pesquisa e
estudo sobre aspectos geográficos, históricos e culturais do território, bem
como dos temas da agenda 2030 da ONU, que não envolvem público presencial, que
serão apresentadas na live, a ser amplamente divulgada no facebook, instagram e
whatsapp e acreditamos poderá mobilizar um número significativo de
ciberativistas, que também oferecerá subsídios para as rodas de conversa
posteriores.
Estamos pensando com bastante flexibilidade, em virtude que os
primeiros resultados da agenda 2030, ainda dispõe de 9 anos para ser concluída,
claro que quanto antes for adiantada melhor, para isso pensamos em nestes 18
meses para o evento 50 + 50, que deverá ocorrer no segundo semestre de 2022,
quando devemos ter a 1ª edição da publicação com o conteúdo inicial do plano da
plataforma dos ODS da ONU, temos portanto 6 trimestres para elaborar sua primeira
versão impressa e em condições de apresentação no Evento 50 + 50.
Assim pensamos no seguinte cronograma:
Fevereiro a abril de 2021 - encaminhamento projeto de captação de
recursos
Março a junho de 2021 – constituição e formação de parceria
institucional para realização de ações da intervenção e inicio de levantamento
bibliográfico dos autores citados para estudo da situação cultural, histórica,
geográfica, ambiental e econômica de Altamira relacionando com autores externos
e a interdependência do local com o global.
Maio a julho de 2021– inicio da mobilização virtual pelas redes
sociais, que permanecerão por tempo indeterminado, pelos próximos anos, até
após a conclusão deste projeto, que deverá ter continuidade pelos próximos anos
e décadas.
Julho a novembro de 2021 – ações presenciais nas universidades e
escolas de ensino médio, bem como nas comunidades, por se tratar de intervenção
social, espera-se que extrapole as instituições escolares, por se tratar de
interesse das comunidades.
Dezembro 2021 a março de 2022 – sistematização das discussões pelas
redes sociais e presenciais e elaboração de novo cronograma de reuniões de
rediscussão temática para formatação do plano de cada tema da plataforma ODS.
Abril a junho de 2022 – Edição de textos, revisão e providências para
publicação.
CONTEÚDOS
A agenda 2030 da ONU, oriunda
dos objetivos do milênio, em 2015, definiu os temas como seguem, no caso de
Altamira, devemos ver caso a caso, considerando a situação específica deste
território e a intersetorialidade destes temas com as políticas implementadas
nesta localidade tanto pelo poder público local, como pela sociedade,
assim, devemos considerar o agir local
pensando no global.
Como a cultura e as artes devem ter um papel
preponderante na discussão, bem como devemos articular atividades de música,
dança, teatro outras ações lúdicas como ferramentas pedagógicas, alguns poemas
que já apresentamos neste trabalho, como “Arma de guerra”, “Já dizia Miguel
Arroyo: Por favor Pedagogia”, “Amazonizar o Mundo” e “A Carta da Terra em
resumo”, já oferece alguns conteúdos a serem debatidos, relativo ao tema.
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Arma de guerra
Educações
em rede
É arma de
guerra
Contra o
coronavírus covid 19
Aspergindo
informações
A todo o
povo da terra.
Educações
em rede
É arma de
guerra
Contra a ignorância
estúpida
Contaminando
de saber saúde
A todo povo
da terra.
Educações
em rede
É arma de
guerra
Contra o
racismo estrutural
A eliminar
a filtragem etno-racial
A todo povo
da terra.
Educações
em rede
É arma de
guerra
Contra
capitalistas insanos
Orientando
justiça econômica
A todo povo
da terra.
Educações
em rede
É arma de
guerra
Contra
governos injustos
Ensinando o
bem viver
A todo povo
da terra.
Educações
em rede
É arma de
guerra
Contra não
civilizados
Conduzindo
à terra sem males
Todo o povo
da terra.
Zehrob
Prates / abril de 2020
Conceituei em 2004, por minha conta e risco, o verbo Amazonizar, como
sendo a ação de entender a relação humanidade X natureza, considerando a
preponderância da Amazônia com sua territorialidade vocacionada pela natureza,
águas, florestas, solos, biodiversidade e demografia tanto de populações
originárias como outras populações tradicionais e de imigrantes. Amazonizar é
portanto assumir a responsabilidade e a defesa da justiça socioambiental.
AMAZONIZAR
O MUNDO
Amazonizar
o mundo é se sensibilizar
Reordenar o território, as “cuencas” unificar
Indígenas, quilombolas, populações tradicionais
Recursos Naturais, Recursos Culturais
Biosfera, Biodiversidade, Conhecimentos... Socializar
Humanos somos parte da Teia da Vida
Predadores integrantes da Cadeia Alimentar
Igarapés, Rios, Terras, Florestas, Bichos,
Povo... Humanizar é Harmonizar
Construção do futuro ou destruição?
Temos ou não temos que optar?
Planejar processos de informar... Comunicar
Agendas 21 profetizar
Pan Amazônia Cooperar
Cada bacia individualizar
Local e global, pensar e atuar
Para um novo tempo de libertação almejar
Conflito é PACIFICAR
Pensar conservar, pensar preservar
Novas gerações da gaia vai precisar
Da terra não poderemos mudar
Usar recursos da natureza?
Temos ou não temos que pagar?
A quem é permitido negociar?
Águas, terras, madeiras, sementes, gente
Direitos de tod@s assegurar
Sociedades livres comunidades saudáveis
Elevado IDH... Tod@s vivenciar
Justiça socioambiental podemos conquistar
Cidadania capacitar
Novas tecnologias adequar na produção que
praticar
Urbanidades
reterritorializar e sanear
Coalizões em Rede exercitar
Em vez de a Amazônia globalizar
O mundo todo AMAZONIZAR.
Zehrob Prates
/ 2004
ALTAMIRA COMO
TERRITÓRIO EXISTENCIAL
Na floresta
ou na hiléia sombria. Tudo é forte, viçoso e gigante
Altamira onde o sol oficia. Revestida de luz deslumbrante.
Oh! Terra amada e fecunda. Fecundo e ditoso chão
Luz do céu teu seio inunda. Oh! Terra da promissão.
Do Xingu águas verdes parece, verde tela de verde polida.
Altamira de verde se tece, terra linda de verde vestida.
(trecho Hino de Altamira, Jonatas Batista, 1911)
Pressuposto básico num processo de
planejamento de projeto em um território, é dispor de um mínimo de conhecimento
sobre a formação histórico-geográfica de tal território, tanto nos aspectos
físicos e materiais como imateriais, notadamente quando se relaciona à espiritualidade
da população na sua relação com os fatos existenciais locais, assim:
...Os modos de vida e os sentidos vinculados à constituição de um
território existencial são reduzidos a espaços físicos e respostas motoras que
se relacionam. A qualidade e a multiplicidade cedem lugar à unidade e à
generalidade (Alvarez e Passos, 2009, p. 133).
A cidade de Altamira, tem mais de um
século de emancipação administrativa e política e com uma riqueza de recursos
naturais e culturais de elevado potencial e no entanto vive a maioria da sua
população com muito baixo índice de renda per capta, pouco mais de quatrocentos
reais por mês por habitante, (https://cidades.ibge.
gov.br/brasil/pa/altamira/panorama). Como já afirmaram variados autores
sobre a economia da Amazônia, com textos semelhantes, mesmo que em diferentes
enfoques, dando a entender que: convive
a população na pobreza em meio a uma enorme riqueza (Rolim, 2015); (Marques,
2019). Além deles, referindo-se ao mesmo assunto:
Constata-se, assim, que em sintonia com
a lógica de exploração dos recursos das regiões ricas em natureza, como é o
caso do estado do Pará, os indicadores econômicos e os indicadores sociais
apresentam movimentos simultâneos em sentidos opostos: os primeiros avançam,
enquanto os últimos recuam. Embora o estado do Pará ocupe lugar de destaque na
economia regional, como maior PIB da Amazônia Legal (25%), a este considerável
crescimento econômico – em função da exploração mineral - corresponde, um
desenvolvimento social compatível com ele, no sentido oposto. Isso se explica
não só pela ação das empresas multinacionais, como também, e complementarmente,
pela ação dos estados, subordinados ao grande capital, seja ele nacional ou
internacional. (Nascimento, 2009)
Altamira, iniciou seu processo de colonização
a partir da chegada dos Jesuítas no início do século XVIII. Até estes serem
expulsos do Brasil no fim daquele século, foram os primeiros brancos a
habitarem este lugar, espaço percebido e vivido (Souza, 2013), ao qual
denominaram Missão Tavaquara e posteriormente povoado Tavaquara, até 1883,
quando o Coronel Gaiozo, que viajava com frequência para a Europa e descobrindo
na Espanha um lugar denominado Cavernas de Altamira, com inscrições rupestres
semelhantes às que haviam nas suas terras nas margens do rio Xingu, resolveu
mudar a denominação desta localidade quando esta foi elevada de povoado a Vila,
como distrito de Souzel, em 2 de abril de 1883, recebendo o nome de Vila de
Altamira. Período em que barcos a vapor transportavam as chamadas ervas do
sertão e que chegavam até o porto de Vitoria, pelo igarapé Tucuruí, hoje cidade
de Vitória do Xingu, (Araujo, 2012).
No livro “A Batalha do Riozinho do Anfrísio:
uma história de índios, seringueiros e outros brasileiros”, obra literária
impar e fundamental para se entender os primórdios da cidade de Altamira e
compreender certas contradições no processo de colonização, por consistir de
história baseada em fatos reais, a saga da família do pai do autor, o
seringalista Anfrísio Nunes, recheado de aventuras envolvendo importantes
personagens reais do ciclo da borracha (Nunes, 2003), permite pensar a vastidão
de Altamira como um território existencial.
Considerando o conceito de território, como um
espaço geográfico em disputa pelo poder político e econômico, com dinâmica
própria e cultura em processo contínuo de transformação (Souza, 2013), podendo
atingir a desterritorialização, que consiste de mudança das relações de poder
político, com drásticos impactos socioeconômicos, ambientais e culturais, onde
a disputa passa a ocorrer pela reterritorialização, (Herrera e Santana, 2013),
quando os derrotados na disputa pelo poder no território, continuam mantendo
resistência, entendendo reterritorialização como sendo a recuperação ou
retomada do território por seus antigos detentores, (Souza, 2013).
Altamira passou ao longo da sua história por
diversos ciclos econômicos, todos potencialmente geradores de renda: ciclo da
borracha (Nunes, 2003), ciclo do ouro, que teve tempos áureos entre 1950 e
1970, quando a Vila da Ressaca, chegou a centralizar os garimpos do Galo,
Itatá, Grota Seca, Morro das Araras, Ouro Verde e Curimã (Moriyama, 2013),
entrando em decadência pouco antes da inauguração da rodovia Transamazônica –
BR 230, em 1972, dando início ao ciclo da agropecuária.
A partir de 1972, o INCRA – Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária, implantou o PIC Altamira – Projeto Integrado
de Colonização, quando foram distribuídos sob os slogans da ditadura militar
“Terra sem homens para homens sem terra” e “Integrar para não entregar”,
distribuiu ao longo da rodovia Transamazônica, em área que posteriormente se
tornariam municípios, lotes de terras, parcelas de grandes glebas, para
imigrantes vindos de diversos estados de todas as regiões do Brasil, que se
aventuraram a participar deste processo de colonização, vindo a receber dezenas
de milhares de famílias, dando forte impulso à economia regional, período este
em que conviveu a agricultura familiar com o agronegócio e a exploração ilegal
de madeira. Enquanto muitos agricultores familiares focavam suas atividades na
produção de grãos e lavoura temporária e alguns experimentos com lavouras
permanentes, vindo posteriormente fortalecer a lavoura do cacau, ainda hoje com
relevante importância econômica, outros se dedicaram à pecuária extensiva.
Durante todo este período, a cidade de
Altamira se comportou como polo regional, ou capital da Transamazônica,
absorvendo e comercializando, inclusive se beneficiando da arrecadação
tributária das produções agropecuárias dos municípios vizinhos, que se
implantaram entre 1989 e 1997, como Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Uruará e
Vitória do Xingu, (Araujo, 2012).
Parte deste ciclo da Agropecuária
conviveu com a exploração madeireira, que foi por longos anos a principal
atividade econômica de Altamira, vindo a entrar em decadência no início do
século XXI, pelo elevado grau de ilegalidade, somada ao caráter predatório da
exploração, provocando eliminação de milhares de empregos e grave crise econômica
como consequência do fechamento de dezenas de serrarias.
A partir de 2010, a Licença de Implantação da UHE Belo Monte, modifica
mais uma vez o ciclo econômico da região, quando Altamira se torna província
energética, reestruturando a cidade de forma violenta, por uma drástica mudança
nas relações de poder na localidade, num clássico processo de
desterritorialização, vindo a Norte Energia S.A, receber por Leilão Público Federal,
a concessão para o aproveitamento das águas do rio Xingu para geração de
energia elétrica, praticamente se tornando a gestora regional das políticas
públicas, pelo menos no auge dos investimentos ocorridos entre 2011 e 2017,
considerando que dirigentes das prefeituras e os gerentes dos órgãos estaduais,
inclusive de saúde, educação, saneamento básico, assistência social, entre
outras, praticamente se tornaram subordinados da Norte Energia como
empreendedora da UHE, em virtude dos elevados valores de recursos financeiros
desta empresa destinados como condicionantes para custeios e investimentos em
compensação, mitigação e reparação de impactos socioeconômicos e ambientais,
que em teoria deveriam ser investidos de forma participativa com gestores locais
e a sociedade civil, que infelizmente não ocorreu.
O que Altamira conquistou, certamente
são incertezas sobre o futuro, uma vez que os impactos ambientais e sociais
ainda não foram devidamente mensurados, a desordem econômica com o final das
obras estão ainda sendo avaliados. O que mais se sente e tem sido reclamado
pela sociedade é a falta de segurança pública, devido Altamira ter se tornado a
cidade mais violenta da Amazônia e das mais violentas do País, considerando o
número de assassinatos por 100 mil habitantes.
Ainda, o impacto na vazão hidrológica da Volta
Grande do Xingu, também é um grande risco, ainda não devidamente avaliado, em
virtude do secamento de um trecho de aproximadamente 100 km de parte do rio,
pela barragem de derivação, conceito técnico para desvio das águas de um rio,
transpondo as águas do seu curso original para enchimento do canal artificial, que
as levam para a casa de força principal da UHE Belo Monte.
Ribeirinhos, pescadores, indígenas e moradores
das margens da Volta Grande do Xingu, têm reclamado dos impactos ambientais
motivados pela redução da vazão do Xingu neste chamado TVR – Trecho de Vazão
Reduzida, particularmente para a ictiofauna, sentida fortemente na pesca
artesanal por indígenas e populações tradicionais da área que têm no pescado
uma das principais fontes de proteína. O que pode se agravar com o tempo, em
virtude do pouco tempo do barramento no TVR. O que a Norte Energia está
chamando de “Hidrograma de Consenso”, referindo-se à descarga das águas com seu
material de suspensão após a barragem, parte dessas águas turbinadas, por terem
passado por máquinas de geração de energia, através de uma fórmula matemática
extremamente técnica, de complexas variáveis, para um controle da vazão por
comportas na barragem do TVR, ainda não suficientemente explicada, muito menos
entendida, tanto por hidrólogos como pelos diretamente impactados, os moradores
das margens do rio nesta área, que tem sido denominada por setores da
resistência como “Hidrograma de Conflito” em vez de Hidrograma de Consenso.
Os impactos da província energética
estão sendo sentidos de forma muito drástica pelas diversas etnias indígenas da
região, face à desestruturação cultural étnica ou culturicídio, considerado por
antropólogos de renome como (Castro, 2016) e (Cunha, 2019) como etnocídio,
(UFPA ATM; ISA; XINGU VIVO, 2019), uma ameaça concreta de extinção de povos
originários do território de Altamira.
Considerando Altamira como território
existencial, a desigual e injusta distribuição de renda, leva a rever o
conceito de “desenvolvimento” considerando este como sendo um processo em que
os investimentos nos sistemas de produção, priorizando grandes obras, mineração
e o agronegócio, nos moldes capitalistas (Nascimento, 2009), beneficiando
poucos em detrimento de muitos, defendendo como política de produção de
progresso social, desprezar o desenvolvimento e propor o inverso, o
“envolvimento” produtivo, capaz de realmente produzir o “bem estar” e o “bem
viver” (Comitê Rio +20 Cúpula dos Povos, 2012), do quê a diversidade das
populações de Altamira tanto necessitam e são merecedoras.
PEDAGOGIA PARA
ENTENDER A REALIDADE
Entretanto infelizmente, a realidade não aparece com ela realmente é,
ela aparece com uma aparência que cada um observa à sua maneira, uns com
aparência mais próxima da realidade outros com aparência mais distante da
realidade, mas é preciso considerar que nenhum imagina a aparência exatamente
real, tudo é relativo sendo portanto necessário relativizar os fatos,
fenômenos, ocorrências, situações, conforme sua própria interpretação da
aparência.
Assim, a cidade de Altamira,
que passou ao longo da história por diversificados processos colonizatórios,
com registros a partir de meados dos século XVIII, quando os primeiros
aventureiros pelas águas do rio Xingu se propuseram interagir com os povos
originários que nesta região perambulavam. Sim perambulavam porque os povos
originários eram nômades, viviam se deslocando pelos rios e pelas florestas
entre um curso d’água e outro. Mas a rede hidrográfica, sempre foi o marco
divisório nesta região da Amazônia.
Amazonizar Altamira na atualidade é mais que necessário. Crianças que
aqui nasceram, imigrantes que para aqui se deslocaram, não enxergam a Amazonia
em Altamira, enxergam uma cidade de concreto, com ruas pavimentadas de asfalto
e cimento, algumas de barro e esburacadas é verdade, mas uma cidade como outras
de qualquer lugar do Brasil, e não relacionam a cidade de Altamira com a
natureza da Amazônia, sua vocação natural, um ambiente de natureza exuberante,
florestas de terra firme, vegetação abundante, elevado potencial de
biodiversidade. Exigindo assim a conjugação do verbo Amazonizar: eu amazonizo,
tu amazonizas, ele/ela amazoniza, nós amazonizamos, vós amazonizeis, eles/elas
amazonizam. Portanto, como exorta o papa Francisco no “Querida Amazônia”, um
desdobramento da Encíclica “Laudato Si”: AMAZONIZA-TE, AMAZONIZA-TE,
AMAZONIZA-TE! Largamente divulgada pela REPAM – Rede Eclesial Pan Amazônica.
Assim, como Altamirense comprometido com o futuro da humanidade, e entendendo,
ou “profetizando” que se não houver cuidados com compromissos urgentes com a
mudança de comportamento do “homo nem tanto sapiens” com a
redução da desigualdade e injustiça sociai, sustentabilidade dos sistemas de
produção e consumo, tanto no agroextrativismo como na indústria, defesa das
florestas, da vida aquática e vida terrestre, defesa de toda biodiversidade,
defesa do equilíbrio do clima, combate ao racismo e à filtragem etno racial,
combate à desigualdade de gênero, defesa da saúde e bem estar, educação de
qualidade, Água potável e saneamento, cidade e comunidades sustentáveis e
confortáveis, energia limpa e parceria e união da sociedade civil e governos
para implementação destas políticas, que estamos denominando de AMAZONIZAR
ALTAMIRA, no caso desta localidade, para servir de exemplo a outras
localidades, considerando o agir local pensando no global.
Assim, consideramos que estaríamos aplicando um processo de
decolonialidade para o bem viver.
Considerar a literatura poética engajada e os saraus como elementos da
educação tanto remota como presencial, como demanda Miguel Arroyo: por favor,
aproximemos a arte da pedagogia.
Considerar também na atualidade a relação da cibercultura com a
dominação política nos processos de colonização.
JÁ DIZIA
MIGUEL ARROYO: POR FAVOR PEDAGOGIA
José Roberto Prates *
Não é apenas na escola que se estuda,
que se aprende
Por favor, a pedagogia não está apenas
na escola
Não se aprende a ser “sujeito”
Ser “sujeito” é uma conquista
A tarefa da pedagogia é fomentar
processos
Por favor, não reprovar, contribuir
para aprovar
Por favor, pedagogia, por favor
Entender a pedagogia como arte de
educar humano
Entender o humano como sujeito de
direitos!
Por favor, isso é fundamental, por
favor!
Por que deixar “Vidas ameaçadas”?
O Estado bate palmas para o
assassinato de jovens negros...
Jovens negros não nasceram assassinos
Mães negras choram seus filhos mortos
Não nascemos prontos, nos tornamos
humanos
As mulheres não nascem mulheres se
tornam mulheres
Não somos sujeitos bio, somo sujeitos
cultura
Nossa primeira pedagoga é nossa mãe
É preciso estudar a pedagogia materna
É preciso estudar a pedagogia do amor
Por favor, precisamos aprender com
essa mulher, essa mãe educadora
Por favor! Quando os sujeitos são
outros,
A pedagogia precisa ser outra!
A pedagogia precisa entender
a realidade teórica dos movimentos
sociais
A pedagogia precisa respeitar
Outra concepção de mundo, Sujeitos e
Relações sociais
A síntese do povo é a mulher!
Por favor, respeitem as mulheres!
Sabemos de onde viemos? Quanto custou
chegar até aqui?
Somos outros! Somos sujeitos humanos!
Diferentes uns dos outros
Como já dito: quando os sujeitos são
outros
A pedagogia precisa ser outra!
Somos sujeitos coletivos, classes
sociais! Por favor
Exercitemos a pedagogia do oprimido
A opressão existe, insiste, persiste
Como sujeitos devemos insistir, não
desistir
Exercitemos a pedagogia da indignação
Contra a brutalidade da realidade
social
Os movimentos sociais conscientes
crescem
Mas a violência do capital é
desproporcional
O que fazer então???
Escola integral integrada de pedagogia
social
Para vencer a violência irracional
Negro drama, cabelo crespo, pele
escura
Vestindo preto por dentro e por fora
Esses nativos não são humanos? Não são
gente?
Não sou eu que me navego, quem me
navega é o mar
Qual é o meu ofício pedagogia?
Por favor, qual é o meu ofício?
Responsabilidade pedagógica
A educação não salva a humanidade,
mas a ajuda a ser menos injusta
por favor, para radicalizar a política
devemos radicalizar a pedagogia
radicalizar a educação
Lutar por terra, por teto, por
direitos, ocupar os espaços
Educação popular cultura de libertação
Arte na educação, arte na pedagogia,
arte na revolução
Literatura, poesia, música, dança,
desenho e pintura
São ferramentas pedagógicas
A Guernica de Pablo Picasso contra a
guerra na Espanha
Por favor pedagogia, nos aproximemos
da arte
Trabalho infância – Tem espaço na
agenda pedagógica?
Oficio de mestre – Qual o papel do
professor?
Imagens quebradas – trajetórias e
tempos de alunos e mestres
Outros sujeitos outras pedagogias
Passageiros da Noite: do trabalho para
a EJA - itinerários da vida justa?
Território em Disputa
Contra o culturicídio brutal em nome
da coroa, do rei ou da república
Por favor Pedagogia
Desobediência civil e transgressão
estão na ordem do dia
Inversão pedagógica para mudar o rumo
da história
Em vez da destruição, construir um
futuro sustentável é sua missão.
Altamira, julho de 2019
* Aluno do curso
de especialização - Educação por inversão pedagógica: Inclusão para emancipação
em territórios socioeducativos da Transamazônica e Xingu - Faculdade
Etnodiversidade – UFPA Campus Altamira
Poema baseado em
sistematização das Conferências proferidas pelo Prof. da UFMG Dr. Miguel
Arroyo, Durante a II Jornada da Etnodiversidade, de 1 a 5 de julho de 2019 em
Altamira - PA.
Carta da Terra em resumo - Zehrob Prates / 2003
Terra
nosso lar
Comunidade
de Vida Global
Desafios
para o Futuro
Compromisso
Universal
Respeitar a Terra e a
Vida em toda diversidade
Dignidade para todos
O potencial intelectual,
Artístico, ético e espiritual
Na humanidade dar e receber
Compreensão, Amor,
SER e não TER!
O Bem Comum,
Sociedades Democráticas
Justiça, Participação,
Solidariedade e Paz
Subsistência Segura
É garantia de acesso
À todas as necessidades
das atuais e gerações futura
Saúde Ambiental, Bioética
Respeito às minorias,
Tolerância é sabedoria
Desconstrução da violência
Espiritualidade da vida
Todos os seres da GAIA
Estados e
nações cooperando-se
Territórios
Sustentáveis
Reordenamento
do desenvolvimento
E transparência nas políticas públicas
Controle social da gestão sociambiental
Ética e
governança Global
Democracia e ordem gerencial
Gestão do conhecimento,
educação, ecoalfabetização
Comunicação e Sensibilização
Desafios econológicos com moral
A espiritualidade de cada lugar
É uma parte importante do global
Punir a improbidade humana
Tem Jeito Sim – Agenda 21!!!
Seres vivos impedir a extinção
Recursos Naturais impedir a exaustão
Biodiversidade,
justa repartição
Termos de
Ajustamento de Conduta?
TAC para tod@s, pessoas físicas
e Jurídicas naturalmente
Pessoal e institucional,
Governamental Principalmente
Oportunidades em capacitação
Empoderamento na atuação
Todas as idades, educação
Arte, Ciência, inovação
Gestão de conflito, manejo,
Restauração e conservação
Ecologia, Tecnologia de gestão
Diversidade de culturas é vida
Mesmos direitos e deveres
Mudança na mente e no coração
Metas de curto e longo prazos
Indivíduo, família e organização
Religiões, escolas e comunicação
Liderança criativa em ação
Parceria socioambiental é a orientação
Soluciona o conflito com negociação.
Reverência face a vida
Sustentabilidade alcançar
Alegria e Paz, vida a celebrar.
Considerações
finais
Não temos a certeza do que será realizado do exposto, vai depender do
apoio e das parcerias nas discussões dos problemas e busca de soluções,
aparentemente algo relativamente grande que nos faz sentirmos muito pequenos
diante do desafio, entretanto em maior ou menor grau, nem que seja apenas uma
publicação com exposição do plano das políticas setoriais e transversais de
cada tema da agenda da ONU será realizada, produzida, editada e publicada como
ferramenta pedagógica, a ser utilizada em processos educativos na formação
continuada da juventude tanto na educação formal, como no cotidiano das
comunidades, considerando a interface dos temas apresentados com a vivência das
populações do território de Altamira, tanto na cidade como nas áreas
ribeirinhas e rurais.
Tal publicação poderá também ser utilizada no planejamento de
políticas públicas setoriais para os orçamentos públicos do governo municipal
para a gestão do território.
Serão propostas avaliações anuais, trianuais, quinquenais e decenais,
conforme a complexidade das variáveis envolvidas na dinâmica temporal dos temas
planejados.
Altamira
(PA), 20 de janeiro de 2021
José Roberto Prates